quinta-feira

Tempos de honra


(Foto Reinaldo Azevedo)

Não vou justificar o injustificável...

O tempo nos leva pelas pernas e nestes pacotes familiares com filhos, marido,casa, trabalho e ainda que um resto de você, ele não passa, ele voa...Devora, mastigando nossos anos... As crianças vão espichando, espichando... Os pezinhos tão bonitinhos, redondinhos e lisinhos vão ficando grandes e ásperos, as calças encurtam, os dentes perfeitinhos de leite, vão dando espaço aos dentões que vão segui-los vida afora e nós? Vamos nos  sentindo impotentes diante dos fatos consumados ali, dia a dia, na sua frente, sem dó nem piedade...

Ando muito cansada de não ter tempo para eu mesma. Filhos são parte do seu ser e de seu crescimento como gente. Tipo daquilo que não aprendemos com ninguém e em nenhum lugar, nem através de confissões ou de leituras, são pura experiência, é na carne e na alma... São explosões de sentimentos de raiva e amor, cansaço e prazer, dor boa, dor ruim, sorriso largo e às vezes forçados de alguém que nem sempre tem algo para dar. Sentimento de satisfação e fracasso em segundos, correria, fraqueza e fortaleza. Orgulho e desânimo, up e down, choro, risos, sono pouco, sono muito, desejos, anseios, decepções, achismos, bobagens, o forte e o fraco, tudo isso misturado no liquidificador... Every day, querendo ou não, de ressaca ou de dieta, não interessa, beba num gole só, mesmo o puro amargo e o muito doce, pois são escolhas, as escolhas devem ser sempre honradas, sempre....

(Desenho do blog http://artstetura.blogspot.com/- Danilo)

Hoje não há mais honra! Ficou muito fácil fingir que não se sabe... Que não conhece as importâncias....

Há quem nunca a conheceu.. E nem quer conhecê-la! Eu sou do tempo que não se usava mais mesmo, mas o  o pior é que se debocha dela... Mas assim mesmo a valorizo muito. Ainda que às vezes,  sinto vontade de deixa-la num canto qualquer... Só para poder sentir outros movimentos... Não consigo! E não foi criação não... Nem de exemplos... Foi assim como uma margarida amarela e simplória,  no meio do concreto...

Quis brotar e ficar, pronto... Está ali, balança, murcha, mas sobrevive, firme e forte...Tá bom assim, tá pronta!

Eu já a vejo como uma persistente e perseverante, de sentimentos mais para haste, do que para as pétalas...

Teimosa...

Por mais que passem caminhões de lixo ou limosines cor de rosa, ela está lá! Chacoalha de um lado, capenga de outro, mas mantem-se na roupa para quem é de trajes e de cor para quem é de sonhos...

Colorida no meio do cinza, ora indiferente com os redores, ora comum... Mas flor!

E já que é para ser flor no meio do concreto e cada um sabe o que deve ser, sendo o que é... Honra aquilo de que é feita...




Eu sei o que devo, não importa se quero mais ou não...

Alguém já perguntou para a flor se no meio do cimentão, com aquela cara rachada, no duro e no escuro, se ela queria desistir de ser flor?

Acho que ela até já pensou nisso... Quem sabe,  viver num belo jardim, ou numa casa que a dona até conversa comigo.... Mas ela se propôs a nascer lá, quebrar o concreto e ser fotografada... E é o melhor que ela pode fazer por hora...

Respira, concentra no cinza, fica colorida e parada... Ergue o rosto, solte os braços...Vou lhe fotografar!



Bjs no coração e força na alma,  para quem ainda consegue ser flor...