quarta-feira

Felicidade Suprema




Eu soube, por estes dias, da estreia do filme do Arnaldo Jabor, "A Suprema Felicidade", marcada para a próxima sexta, dia 29.

Mas, não vou me atrever a comentar sobre o filme ou  me aprofundar nos aspectos técnicos ou artísticos, nem mesmo sobre a direção, o roteiro, os atores e as atrizes, pois não tenho essa facilidade e nem o conhecimento necessário, como meus amigos: Sandra(Apenas uma vez), Rafael(Baú do Jamal) e Luis Fabiano (Blog do Luis Fabiano), cinéfilos e críticos de muito bom senso e bom gosto, com suas argumentações inteligentes e diferentes entre si, relatam sobre os filmes, de maneira brilhante em seus blogs. 

Vou apenas dizer que sou fã do Jabor, assim como muitos (vou tentar explicar o por quê)  e que vou com certeza assistir seu trabalho, após seu jejum de quase 20 anos.

O Jabor é do tipo que se ama ou se odeia, não tem meio termo. E eu me identinfico muito com ele. Identificação, não com a forma (quem me dera) mas como ele se mostra, através de seus textos e críticas... Me enxergo em suas experiências, pois, assim como ele, não tenho muito jogo de cintura não, sou daquelas que mergulha nas situações e vivo totalmente cada momento, nas suas delícias e dificuldades e sem meias palavras, digo o que sinto em relação às pessoas e ao mundo, sem me preocupar com a sensibilidade alheia.

Isto é odiável para uns, aprendizado para outros, pois como o Jabor, sinto que os extremos ainda são meus pontos ideais, não sei viver no muro, no banho  morno, no depende, no quem sabe, no Maria vai com as outras, no nhem nhenhem nhem  e na frescura de quem não sabe se vai ou se fica... Tomo minhas decisões e parto com o peito aberto, aberto às críticas e aplausos, e o que vier é lucro, pois já estou no comando do trator, então de qualquer forma vou passar por cima das turbulências e  nos desníveis dos solos, porém, me atentando aos seres,  não mato as criaturas que vivem nos buracos, nos arbustos , arvores ou nos caminhos... Respeito a vida e respeito acima de tudo meus princípios de não prejudicar o outro para benefício ou felicidade própria. Não vou pisar na cabeça do outro, para me manter em pé....




Há de se ter respeito pelo que se é ou que se tenta ser, mesmo que o cadeira com encosto alto lhe pareça a mais confortável. Ser gente realmente não é para qualquer humano, dá um trabalho animal. Tal como enxergar onde há felicidade, nos grandes e pequenos gestos, precisamos lixar bastante a alma, para que ela possa absorver os tons da vida...

Felicidade é algo tão pessoal, tal como os perfumes e os cheiros. Precisa saber usar, sem abusar, porque senão fede.

O filme ainda não assisti, mas creio eu, que ele não deve estar preocupado com as criticas, negativas e positivas que andam publicando por ai, pois o que ele quer falar mesmo é de felicidade suprema (e extrema) para isso, com certeza não se preocupou nem os com Chicos e nem com os Franciscos, simplesmente dará o seu recado e quem quiser, como diz minha amiga Luna (Palavras...Apenas momentos), que coma de colherada!

O texto abaixo, foi publicado em 3 de Agosto de 2010, no Jornal "Correio Popular", aqui de Campinas, e eu recortei e guardei para um dia publicar no blog.

Ainda bem, surgiu a oportunidade...

Espero que gostem e obrigada por ainda permanecerem por aqui, mesmo em minhas raras visitas em seus blogs e oportunidades de retribuir o carinho, sempre presentes!

A felicidade é uma obrigação de mercado

"Acabou o tempo do happy end"

Desculpem a autorreferência, mas estou terminando meu filme “A Suprema Felicidade”, que me tomou três anos, entre roteiro, preparação e filmagem. Agora, sairá a primeira cópia.

Amigos me perguntam: “Que é essa tal de ‘A Suprema Felicidade’? Onde está a felicidade?” Eu penso: que felicidade? A de ontem ou a de hoje?

Antigamente, a felicidade era uma missão a ser cumprida, a conquista de algo maior que nos coroasse de louros; a felicidade demandava sacrifício. Olhando os retratos antigos, vemos que a felicidade masculina estava ligada à ideia de “dignidade”, vitória de um projeto de poder. Vemos os barbudos do século 19 de nariz empinado, perfis de medalha, tirânicos sobre a mulher e os filhos, ocupados em realizar a “felicidade” da família. Mas, quando eu era criança, via em meus parentes, em minha casa, que a tal felicidade era cortada por uma certa tristeza, quase desejada. Já tinha começado o desgaste das famílias nucleares pelo ritmo da modernidade.

Hoje, a felicidade é uma obrigação de mercado. Ser deprimido não é mais “comercial”. A infelicidade de hoje é dissimulada pela alegria obrigatória. É impossível ser feliz como nos anúncios de margarina, é impossível ser sexy como nos comerciais de cerveja.

A felicidade hoje é “não” ver. Felicidade é uma lista de negações. Não ter câncer, não ler jornal, não sofrer pelas desgraças, não olhar os meninhos-malabaristas no sinal, não ter coração.

O mercado demanda uma felicidade dinâmica e incessante, cada vez mais confundida com consumo, fast food da alma. A felicidade é ter bom funcionamento. Há décadas, o precursor McLuhan falou que os meios de comunicação são extensões de nossos braços, olhos e ouvidos. Hoje, nós é que somos extensões das coisas. Fulano é a extensão de um banco, sicrano comporta-se como um celular, beltrana rebola feito um liquidificador. Assim como a mulher deseja ser um objeto de consumo, como um avião, uma máquina peituda e bunduda, o homem também quer ser uma metralhadora, uma Ferrari, um torpedo inteligente – e, mais que tudo, um grande pênis voador.

A ideia de felicidade é ser desejado. Felicidade é ser consumido.

Dirão vocês: “Bem, resta-nos o amor...”. Mas, aonde anda, hoje em dia, esta pulsão chamada “amor”?

O amor não tem mais porto, não tem local para ancorar, não tem mais a família nuclear para se abrigar. O amor ficou pelas ruas, em busca de objeto, esfarrapado, sem rumo. Não temos mais músicas românticas, nem o lento perder-se dentro de “olhos de ressaca”, nem o formicida com guaraná. Mas, mesmo assim, continuamos ansiando por uma felicidade impalpável.

Se isso é um bem ou um mal, não sei. Mas é inevitável. Temos de parar de sofrer romanticamente porque definhou o antigo amor.... No entanto, continuamos – amantes ou filósofos – a sonhar como uma volta ao passado que julgávamos que seria harmônica. Temos a nostalgia lírica por alguma coisa que pode voltar atrás. Não volta. Nada volta atrás.

Sem a promessa de eternidade, tudo vira uma aventura. Em vez da felicidade, temos o gozo rápido do sexo ou o longo sofrimento gozoso do amor; só restaram as fortes emoções, a deliciosa dor, as lágrimas, motéis, perdas, retornos, desertos, luzes brilhantes ou mortiças, a chuva, o sol, o nada. O amor, hoje, é o cultivo da intensidade contra a eternidade. O amor, para ser eterno hoje em dia, paga o preço de ficar irrealizado. Aí, a dor vem como prazer, a saudade como excitação, a parte como o todo, o instante como eterno.

Há de perder esperanças antigas e talvez celebrar um sonho mais efêmero. É o fim do happy end, pois na verdade tudo acaba mal na vida. Estamos diante do fim da insuportável felicidade obrigatória. Em tudo. Não adianta lamentar a impossibilidade do amor. Cada vez mais, só o parcial nos excita. O verdadeiro amor total está ficando impossível, como as narrativas romanescas. Não se chega a lugar nenhum porque não há onde chegar. A felicidade não é sair do mundo, como privilegiados seres, como estrelas de cinema, mas é entrar em contato com a trágica substância de tudo, com o não-sentido, das galáxias até o orgasmo. Usamos uma máscara sorridente, um disfarce para nos proteger desse abismo. Mas, esse abismo é também nossa salvação. A aceitação do incompleto é um chamado à vida.

Temos de ser felizes sem esperança. E este artigo não é pessimista...

Arnaldo Jabor
Crítico, cineasta e jornalista carioca

domingo

Na conveniência as convivências...

(3 posts em 1)


A convivência com pessoas normais me faz me sentir bem.

Acredito que eu estava antes, cometendo o pecado da gula, querendo escolher, selecionar pessoas para ter ao meu redor, isso me faz hoje, parecer uma pessoa no qual eu não gosto, pessoa ambiciosa, gulosa e arrisco até em dizer invejosa, inveja de ser o que não é...

Daquelas que fica ao lado do outro para tirar algum proveito da situação.

No meu caso, eu queria sim queria provar os paladares mais apurados, as palavras mais rebuscadas, os perfumes mais cheirosos e a visão do belo e adequado nas roupas, o bom gosto nos gestos, na pele e nos cabelos, ainda que tanto relute: Como as embalagens mexem conosco, nos fascinam... Voltamos à infância, nos tornamos ingênuos e com "olhos maiores que a barriga" e quando menos esperamos, estamos ali tentando imitar essas pessoas que cobiçamos, buscando os mesmos gostos, participar do mesmo mundo, mesmo que aquele ainda não seja seu...

A velha desculpa de dizer que se deseja o melhor para si, mas na verdade, ainda que com razões louváveis, isso é muito pedante!

Lembro-me das escolhas que minha mãe fazia para si e o quanto ela repetia, ensinando-me a identificar características em relação às minhas amizades, fazer um bom garimpo pelo ter. Essas escolhas são sempre como presentes, acréscimos, como um dever de participar de algo imaginando ser o melhor para você e os seus, mas que na realidade, muitos são padrões fictícios, tal como uma novela, onde tudo é muito perfeito e belo.

Buscamos o belo, porque fica mais fácil, porque o bruto dá trabalho para lapidar, porque o bruto é nosso espelho e de nossa origem e insistimos tanto em fugir, ainda não sei a causa: ambição, inveja, fetiches ou isso disfarçado de vontade de crescer e evoluir (muito bonito isso...).

Dar um passo na grande escada de mármore, subindo alguns degraus, será com certeza um tombo, logicamente proporcional...

Olhar pessoas quando se sente acima, pode ser bom por alguns instantes, mas depois nos torna distantes e frios e quando menos esperamos, não percebemos o tão longe estamos de nossa essência, do que precisamos e do que realmente nos preenche. Ao contrário, estamos vivendo algo que não nos pertence...

Percebemos o desconforto de comer demais... Não precisamos de tanto!

O desejo de dar a última palavra, impor a opinião dos sabidos, daqueles que alcançaram de alguma forma mais e deixar bem claro que somos acima da "carne seca", sempre nos faz sentirmos superiores, além dos demais e além disso, muito soberbos... O prazer de olhar os outros com a indiferença nos olhos e nos sentimentos, disfarçando que a capacidade intelectual nos torna pessoas "seletivas".

Pobres ervilhas selecionadas...

Ainda que demore, um dia percebemos que o sabor se dá na mistura dos sabores, a consangüinidade só nos traz defeitos físicos e problemas psico-social, neural, orgulhal, mediocral e idiotal!

Manias e conceitos tão unanimes que não tem cor.

Ainda que algumas atitudes de falta de polimento me incomodem, a satisfação de ouvir pessoas que vivem n o r m a l m e n t e com que conquistaram e possuem, superando as dificuldades, é gratificante demais para tornar o ouvir, mais interessante do que o olhar. O olho ainda vê as formas do comer, vê os exageros nos adornos, vê os gestos pesados de quem sempre carregou pedras, mas consegue ouvir mais e sentir no coração, a alma de grandes gestos, do desejar verdadeiro, do tocar sincero e isso tem feito meus olhos enxergar muito além das cascas...

Precisamos nos dar a oportunidade de participarmos de outros mundos, ao menos colocar uma pequena dose em nossa vida para que possamos entender nossa essência, para que possamos compartilhar, mesmo que ouvindo, de experiências de vidas de outros para que possamos nos melhorar.

Estou me sentindo uma pessoa melhor por ouvir estas histórias...



"Um dia, uma mulher (uma colega de trabalho), contou-me o porquê está trabalhando lá:

Disse-me que o esposo na época estava na África a trabalho, que eles têm três filhos, sendo o menor com cerca de dois anos... Ela também tinha, como ele, um bom emprego, bem remunerado e que ela gostava muito.

Os filhos conviviam com as delicias que os salários de ambos compravam.

Um dia o menor parou de comer, não aceitava nenhum sabor, nenhuma cor, nada colocava mais em sua boca... Todos se desesperavam, ninguém encontrava a razão e como por nascer prematuro e seu desenvolvimento tornou-se mais lento que os demais, ele ainda não falava, então não soube dizer à mãe porque temia a comida em sua boca...

A mãe levou-o a muitos médicos, muitos e muitos, muitos exames, muito sofrimento e nada do menino comer... Quando via o prato de comida gritava, chorava e não aceitava nada! A pediatra, impotente diante dos fatos não científicos, aconselhou-a a largar do emprego, para que pudesse ficar com ele, pois ele emagrecia dia a dia...

Talvez fosse a falta da convivência com a mãe, tentou a médica.

A mãe ainda não convencida, saia no meio do expediente e tentava conciliar, participar mais, mas ainda não adiantava, ele não voltava a comer!

O marido de longe, vendo a imagem da criança, implora para a esposa largue tudo e fique integralmente com as crianças em casa...

Então, ela resolve largar tudo e fica com os filhos. Dispensa a babá...

Insiste, insiste, mas a comida ainda é rejeitada pelo menino e ela se pergunta: O que mais posso fazer???

Ela faz um purê de batatas bem caprichado, conhece o gosto do filho, o filho olha, sua boca enche de água, mas chora ao ver o prato, chora e chora e ainda sim, rejeita!

A criança cada vez mais magra, porém com o desejo faz a mãe desesperar... Ela tenta, ela insiste e nada...Num momento de fúria diante do cansaço, do desconhecido, ela esfrega o purê de batatas no rosto da criança e diz:
- Comeeeeeeeeeeeeee! Come, pelo amor de Deus, comeeeeee!

A criança assusta! Mas,entre o susto e o choro, lambe e sente o sabor do purê quando a língua encosta, provando não só o gosto, mas a temperatura... Percebe que gosta e que pode comer! E finalmente após semanas come. Num ataque do experimentar, no ataque da fome contida, ele não espera pelo talher, ele enfia as mãos no prato e como uma animal, enchendo as mãozinhas de purê e levando à boca, enchendo-a de purê... Engolindo freneticamente o alimento...

Seus olhos surpresos olham a mãe aliviada, que suspira, chora e deixa que ele se lambuze...

Passado o susto, com o alívio vem a constatação: Ele deve ter queimado a língua!

Ela procura a ex babá, que confessa o acidente... Deu a papinha muito quente e queimou a língua do bebê e com o medo de perder o emprego, calou-se, calou-se diante do sofrimento da mãe, calou-se diante da magreza do bebê, do desemprego e desespero, calou-se por medo, calou-se...

“Ambas precisavam trabalhar...”
...


Fábula da convivência

Há milhões de anos, durante uma era glacial, quando parte de nosso planeta esteve coberto por grandes camadas de gelo, muitos animais, não resistiram ao frio intenso e morreram, indefesos, por não se adaptarem às condições.

Foi, então, que uma grande quantidade de porcos-espinho, numa tentativa de se proteger e sobreviver, começaram a se unir, juntar-se mais e mais.

Assim, cada um podia sentir o calor do corpo do outro. E todos juntos, bem unidos, agasalhavam uns aos outros, aqueciam-se mutuamente, enfrentando por mais tempo aquele frio rigoroso.

Porém, vida ingrata, os espinhos de cada um começaram a ferir os companheiros mais próximos, justamente aqueles que lhes forneciam mais calor, aquele calor vital, questão de vida ou morte. E afastaram-se, feridos, magoados, sofridos. Dispersaram-se, por não suportarem mais tempo os espinhos dos seus semelhantes. Doíam muito...

Mas essa não foi a melhor solução! Afastados, separados, logo começaram a morrer de frio, congelados. Os que não morreram voltaram a se aproximar pouco a pouco, com jeito, com cuidado, de tal forma que, unidos, cada qual conservava uma certa distância do outro, mínima, mas o suficiente para conviver sem magoar, sem causar danos e dores uns nos outros.

Assim, suportaram-se, resistindo à longa era glacial. Sobreviveram.

É fácil trocar palavras, difícil é interpretar o silêncio!

É fácil caminhar lado a lado, difícil é saber como se encontrar!

É fácil beijar o rosto, difícil é chegar ao coração!

É fácil apertar as mãos, difícil é reter o calor!

É fácil conviver com pessoas, difícil é formar uma equipe!
(Autor desconhecido)
...

Para sermos uma equipe, "precisamos descobrir a alegria de conviver"
(Carlos Drummond de Andrade)