quarta-feira

O perfeccionismo

Texto Liane Alves
Publicado na Revista "Vida Simples"
Agosto de 2010

E a grama do vizinho...


A mania do perfeccionismo pode atravancar sua vida. Preste atenção e você verá que boa parte de seus sonhos só existe para satisfazer um modelo idealizado inatingível. Tirar do caminho essa casca de banana a tempo é nossa única saída

Todo publicitário sabe disso: somos basicamente movidos pela inveja. O desejo que dispara nossa vontade de consumir é o de querer ter o que outro tem, seja o carro do ano, a barriga tanquinho ou a família alegre que almoça ao redor de uma macarronada fumegante. Ora, ninguém vai invejar algo fácil de obter – porque, se é fácil, presume-se que todo mundo já tenha. Então, oferece-se o que é mais difícil de conseguir: o mais perfeito, o mais feliz, o mais bonito, amoroso, elegante ou sensual, enfim, o “mais mais” de qualquer coisa que possamos invejar. É assim que somos presos pelo anzol: não compramos apenas um produto, mas todo um modelo de beleza, status e perfeição que vem associado a ele. “Para nos aproximarmos do que é oferecido pela mídia, iremos comprar tudo ou fazer de tudo que nos dê a impressão de sermos tão perfeitos quanto o que vemos numa televisão ou numa revista. Sem parar para pensar no que estamos realmente fazendo conosco”, diz Regina Favre, psicoterapeuta, pesquisadora dos processos cognitivos e alguém muito atento ao sistema opressivo que traz dezenas de clientes ao seu consultório.

Nesse sentido, somos todos perfeccionistas, inclusive eu e você, que tateamos por uma vida mais simples e natural mas que ainda vivemos sob a influência da publicidade, da mídia e de muitos dos padrões vigentes. Como todo mundo, podemos estar ralando para cumprir modelos impostos sem perceber. E ralando muito, posto que a perfeição é mercadoria escassa nesse mundo naturalmente imperfeito. Além disso, ninguém vai nos contar que realizar o sonho de manter todas as áreas da vida sob controle é impossível, apesar de todo o esforço. Um corpo certinho não vai garantir relacionamentos plenos e amorosos, um emprego ideal ou a casa na praia não são sinônimos automáticos de felicidade. Este é o mecanismo perverso dessa história: a perfeição, mesmo quando é atingida, só nos chega aos pedaços.

Arapuca esperta

Esse desejo subliminar de perfeição alimenta toda a estrutura econômica e social da nossa cultura. Mais e melhor é o grande produto oferecido por um sistema que ao mesmo tempo que nos apavora com o medo de envelhecer, de sofrer, de ficar feio, ultrapassado ou gordo nos propõe soluções instantâneas para resolver esses “problemas”.

“É uma configuração de terror e alívio. Somos estimulados, por exemplo, a ter pavor da celulite, do olho caído, do músculo flácido, enfim, de tudo que indique a passagem do tempo, mas ao mesmo tempo nos são oferecidas academias de musculação, cremes maravilhosos, plásticas”, diz Regina Favre. “Hoje, as academias estão abertas até as 4 da manhã para que as pessoas possam frequentá-las. É uma luta desesperada para manter a forma de acordo com um determinado padrão. Procuramos por um corpo idealizado, perfeito, não um corpo sentido, vivido”, diz ela. Podemos estar nele e nem sequer percebê-lo, como se ele fosse apenas uma roupa bonita que se veste para, basicamente, mostrar para os outros.

Dentro do pacote

Segundo Regina Favre, duas doenças contemporâneas testemunham nossas reações diante desse desafio da perfeição: a síndrome do pânico e a depressão. “Se prenuncio que não vou conseguir atender ao padrão de exigências estabelecido, começo a entrar em ansiedade e, depois, em desespero, em aflição: é o pânico que chega. E se, ao contrário, dou conta do fracasso em cumprir o que é proposto idealmente pelo mercado, posso ser tomado pela depressão.”

E por que será que desejamos a perfeição de maneira tão obsessiva? “Há o mito construído por essa mesma estrutura mercadológica de que se não formos perfeitos, jovens e belos seremos excluídos. Portanto, temos medo da exclusão, da obsolescência. É esse o fantasma que nos ameaça: sermos jogados fora do mercado, seja profissional, seja sexual ou produtivo.”

E, mesmo quando atingimos as altíssimas metas de perfeição que estabelecemos para nós, o resultado pode não ser aquele que esperamos. “Atendi um jovem executivo, ótimo profissional, com competência em várias áreas, financeiramente realizado que, casado com uma mulher tão bonita quanto ele, não conseguia ter relações sexuais com ela. Exatamente porque no amor vinha embutido o que ele mais temia na vida: a possibilidade do sofrimento, da insegurança, do fracasso e do risco”, diz Regina.

Esquecemos algo fundamental: que sofrer, arriscar-se sem garantias, sentir-se inseguro e provar sentimentos de perda ou falta fazem parte da riqueza de experiências que a vida pode nos proporcionar. “Existe toda uma cultura, e uma indústria, do antissofrimento. Há uma condenação geral dos processos naturais da existência, como o envelhecer, por exemplo. Enfim, excluem-se as possibilidades que pertencem ao viver.” Evita-se ao máximo vivenciar experiências que possam trazer o imprevisível, o inseguro ou o sofrimento – como o amor e a entrega, por falar nisso.

O resultado? Ficamos cada vez mais hesitantes em experimentar verdadeiramente o sabor da vida, com suas disparidades, imprevisibilidades, erros e acertos, bobagens assumidas e não assumidas. Ao optar pelo controle que vem atrelado ao desejo de perfeição, perdemos cada vez mais o aprendizado e o encanto dos enganos que a existência pode nos oferecer.

Mas vem aí uma boa notícia: uma vigorosa contracorrente a esse tipo de pensamento já está presente há uns 30, 40 anos na sociedade. “Ela questiona e rejeita essa configuração de estilos de vida rigidamente perfeitos. Propõe um modo de viver mais respeitoso às particularidades do indivíduo e a nossa integração com a natureza. Emergem novos tipos de valores que se distanciam do modelo da perfeição e falam de novas posturas que incorporam conceitos como o desapego e a noção de impermanência, por exemplo. A sociedade de consumo não é mais o padrão ideal.”

Há igualmente uma recusa em usar um único parâmetro de beleza ou daquilo que se convenciona chamar de sucesso ou de felicidade. Essa nova atitude começa com o respeito ao próprio corpo. “Tomar conta da configuração de si é um ato político”, afirma Regina Favre. Ser responsável pela própria saúde, pelos alimentos que consumimos, pelos ritmos internos e necessidades pessoais é uma nova posição de vida, mais consciente e individualizada, e não mais só coletiva e imposta.

Ainda bem. Não deixa de ser um grande alívio constatar que fazemos parte desse outro movimento e que há uma benvinda transição em curso.

E começa a revolução

Se há uma pessoa que sempre observou, com perfurantes críticas, o que nos é proposto pela família, cultura, sociedade e também pelo mercantilismo, esse alguém é José Ângelo Gaiarsa. Psiquiatra, trouxe questionamentos profundos, expressos em vários livros, sobre nosso modo de viver, nossas escolhas e padrões de comportamento. Conhecedor da fisiologia do corpo humano, em especial do cérebro, coloca em dúvida nossa capacidade de fazer julgamentos justos sobre os parâmetros que usamos ao avaliar a perfeição. Isto é, estalamos nosso chicotinho à toa quando decidimos que não somos perfeitos e que isso é suficiente para nos condenar à desgraça. “Estamos submersos em um mundo de palavras e conceitos que não têm valor real e que só nos trazem infelicidade”, diz o doutor Gaiarsa. Para ele, a maioria dos nossos julgamentos não resiste a um simples exame de lógica: são superficiais, enganosos e altamente falhos. Em outras palavras, nossas conclusões sobre o que é ou não é perfeito não são nada confiáveis. “Não temos condição de nos julgar, ou de nos condenar, com isenção. Tenho alergia a palavras como ideias, conceitos, julgamentos que não dizem nada e só aumentam a nossa confusão. Já o corpo não mente jamais”, diz ele, que, com 90 anos, continua com o raciocínio tão rápido quanto o de um adolescente.

Segundo Gaiarsa, a grande revolução começa ao sentirmos mais o corpo, ao termos um contato mais profundo e próximo com ele. Isso significa respirar melhor, movimentar- se mais livremente e de forma não repetitiva, experimentar toda a gama de sensações que os sentidos podem nos oferecer. O sentimento de vitalidade, autonomia, autoapreciação e bem-estar experimentado na posse do próprio corpo pode nos tornar menos vulneráveis a modelos externos e a comparações.

Com esse conhecimento, abre-se o espaço para o nascimento de uma nova consciência, mais independente e autônoma. E Gaiarsa explica como e por quê. Segundo pesquisas recentes feitas por ele, os três cérebros – reptílico, límbico e cortical – que constituem nosso sistema cerebral, e que foram se formando ao longo de nossa evolução peixe-anfíbio-mamífero, se alimentam do oxigênio de forma diferente. O cérebro reptílico, como o dos próprios répteis, consome muito pouco oxigênio; o límbico, responsável por nossas emoções, também. É o neocórtex cerebral, o mais recente em termos evolucionários e também o responsável por nossa capacidade de pensar, avaliar ou julgar, que consome mais oxigênio dos três. “Isso significa que, ao respirarmos mais profundamente, o córtex se ilumina: o raciocínio torna-se claro, as conexões cerebrais se ampliam”z, afirma. É como trazer gasolina azul para nossa capacidade de pensar. E a conclusão de Gaiarsa é espantosa. “Se respiramos mal, estamos alimentando apenas nossos cérebros mais primitivos. Ficamos reféns do medo e da agressividade, reações básicas do mecanismo de sobrevivência associadas ao cérebro reptílico, e das emoções negativas geradas no límbico, como inveja, medo, competição.” Ora, são essas as emoções que nos colocam a serviço de modelos impostos pela sociedade. É por competitividade que lutamos por um suposto território, é por inveja que consumimos. E somente a consciência, formada no neocórtex cerebral, pode nos livrar disso. “Não temos ideia de como a simples respiração pode nos ajudar a nos libertarmos dessas emoções e do domínio que elas nos impõem”, diz limpidamente o pesquisador.

Juro que nunca tinha pensado nisso. Respirar melhor traz mais clareza de raciocínio: podemos ver mais nitidamente onde estamos amarrando nosso burro. E, com isso, talvez possamos enxergar melhor os esquemas furadíssimos em que às vezes nos metemos. Só por essa descoberta, o doutor Gaiarsa já merecia um beijo.

Diagnósticos por cores

Outras áreas da medicina também estão procurando sair do mundo dos conceitos e dos modelos rígidos preestabelecidos. Na Unifesp, em São Paulo, mais precisamente no Centro de Estudos do Envelhecimento, os diagnósticos, realizados por uma equipe transdisciplinar que inclui várias especialidades, são feitos por cores. Cada profissional faz sua avaliação, de acordo com sua especialidade, e a expressa usando giz de cera colorido. Depois, os participantes trocam entre si os papéis onde usaram os tons coloridos para tentar chegar a um padrão de avaliação e a um diagnóstico comum. Os significados atribuídos às cores seguem os padrões elaborados pelo escritor alemão Goethe, no século 19, e que ainda hoje são utilizados pela medicina antroposófica, por exemplo. A ideia tanto serve para ultrapassar as discussões intermináveis, onde cada um usava a linguagem específica da sua área e que não era comum a todos, como emprega um outro hemifério cerebral, o direito, para elaborar um diagnóstico.

Isso não quer dizer que o hemisfério cerebral esquerdo, responsável por lógica, comparação e raciocínio, não seja importante e não vá ser usado em etapas posteriores. É que simplesmente não está com essa bola toda que atribuímos a ele. “É uma avaliação mais completa”, afirma o médico homeopata Fernando Bignardi, responsável por esse centro de estudos e pesquisas da Unifesp.

As avaliações do paciente também incorporam o modelo quântico trazido pelo físico indiano Amit Goswami: o protocolo terapêutico vai levar em conta o homem em sua dimensão física, metabólica, vital, mental (incluindo a parte emocional e psicológica) e supramental (espiritual). Nada de modelos unidimensionais e unirreferenciais. A meditação é fortemente incentivada entre os pacientes, justamente para que possa ser facilitada a liberação de padrões rígidos de pensamento e, com isso, de comportamento. Inclusive vários estudos foram realizados sobre esses efeitos na população mais idosa. A perfeição não é mais a única meta, mas o equilíbrio, a harmonia e o bem-estar.

Sinal de que o mundo está mudando mesmo. Até em áreas anteriormente tão resistentes a outros saberes quanto a medicina.

Quando vale a pena

Depois que limpamos bem esse terreno, já é possível ver que geralmente usamos o desejo de perfeição da forma errada, por motivos fúteis, e para atender necessidades estimuladas por uma estrutura mercadológica de consumo. Mas depois de ver tudo isso, agora sim, podemos dizer que esse desejo também tem a sua utilidade. Os grandes gênios da humanidade se alimentaram dele: Michelangelo, Da Vinci, Einstein. Mas essa dedicação completa à perfeição estava a serviço da arte, da ciência e, para resumir a história, da humanidade. Eles podem ter estropiado sua vida pessoal por isso, inclusive. Também nada garante que fossem mais felizes ou realizados atendendo a esse chamado. Mas a verdade é que, em vez de procurarem unicamente sua felicidade individual, colocaram suas aptidões e talentos a serviço de algo maior, às vezes em detrimento de sua saúde, sanidade ou realização afetiva. Almejar a perfeição, portanto, pode nos levar a grandes realizações e feitos, a um aperfeiçoamento constante, até a obtenção de uma qualidade exemplar. Mas por vezes o preço é alto.

“Sede perfeitos, como o vosso Pai do céu é perfeito”, nos diz o evangelho. E onde o Criador seria perfeito? “Na generosidade”, continua o evangelista Mateus. Para mim é uma grande supresa essa segunda colocação: quase nunca ninguém lembra que tipo de perfeição nos é pedida. É um simpático motorista de táxi que me faz recordar isso quando digo a ele que estou escrevendo uma matéria sobre o tema.

Em vez de apresentar um modelo rígido e acabado de perfeição, sucesso e beleza, as palavras de Cristo propõem, ao contrário, um exercício de humanidade, naquilo que o ser humano tem de melhor: sua capacidade de amar, perdoar, ter compaixão e praticar a generosidade – inclusive consigo mesmo, no caso de erro e falta. Por isso, o desejo de perfeição não é, por si só, ruim. Não se encarado dessa maneira generosa. Nossa grande questão é, e sempre vai ser, onde vamos colocar esse desejo.

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Por que somos seres tão insatisfeitos, ou por que nunca sabemos o que nos basta realmente?

É o casamento, a liberdade, a casa, o emprego, o diploma, o pós doc, a viagem, o carro, o perfume, o homem, a deusa, a aventura, o restaurante, a grife, a bolsa, a plástica, a separação, a festa, a ousadia, o que mais precisamos para dizer basta!? Tá bom assim! Então ai sim, vamos ser seres mais de ser, do que seres de ter. Gostaria de ser, simplesmente um ser. Sem ficar preocupada com o ter, com tantos  entornos e adornos... Quem dera que os barulhos do consumos e do ter, passassem longe de minha porta e somente entrassem os ser, porque ao longo dos anos, vamos caminhando e tendo e somente tendo e nada tendo e sendo a oferecer, porque os paupáveis são na verdade plásticos e inertes e o abstrato ainda que não visto, ou tocado é sentido. E eu sinto muita  falta dos abstratos pelas ruas, no olhar das pessoas, nos laços e nos toques...Ah sim, os toques... Temos muitos toques hoje em dia, toques das ladys e das não ladys, mas o que eles tocam afinal? Os toques não tocam nada! Porque tá tudo muito oco, tá tão vazio que além da sonorização artificial, ouvimos ecos, ecos e ecos.... (também ecos da ecologia que fica somente na logia) Ecos dos vazios dos transeuntes de gravata e tambm os sem camisa... Muitos ecos... Precisamos pendurar mesmo muito barulhos... Porque o monte de barulhos preenchem todo esse marasmo de gente, que não sabe produzir som de nada que é humano e do seu ser. Porque quando alguem emite um pequeno ruido, um som, uma pequena particula de algo que esta sentindo é porque não está bem e precisa de ajuda, precisa ficar feliz e feliz e feliz, dim, plac, bum, oioio, muitos sons para sorrir e ficar assim embriagado com essas cores e sons artificiais... Eles piscam no pulso, no pescoço, na cabeça, nos pés, nas unhas, muitas cores, muito brilho, muito perfume, muito som, glaumour, poder, sofisticação e out, vc está arrasando! E assim caminhos no ter e no ter... Ah humanidade... Seres robotizados, elitizados e perfeitos com toda esta purpurina!

Joga mais brilho, porque o brilho esconde o oco, o vazio, joga o perfume que tira o cheiro, joga a marca, não precisamos ver o conteúdo, joga o liso, porque o crespo não interessa, joga cor, porque quem gosta de cinza é gente deprimida, joga confete na bunda da passista, joga a porpurina na cara do palhaço, joga porque tá tudo vazio...Precisamos encher, esse monte de linguiças! (Andrea Pagano)

Intervenção

Quando eu tinha o canal A&E na minha rede de canais disponíveis, um dos programas que eu mais gostava de assistir era o Intervention.

É um programa que mostra casos de pessoas que estão viciadas em alguma (s) droga(s), bebida(s), etc. ou que tem comportamentos (obsessivos compulsivos, transtornos), no qual, lhe tragam crises pessoais e isso lhe distancia dos seus amigos e entes queridos. No programa, primeiro, relatam e mostram como a pessoa vive, com a participação da mesma (acho que falam para a pessoa que é um documentário) e assim ela vai tendo sua rotina, consumindo o que costuma consumir e na mesma freqüência... Tendo suas crises, pré e pós, isso tudo na frente das câmeras, situações de comportamento em geral frente à vida e às pessoas, tudo filmado e narrado... 

O desfecho sempre é uma grande surpresa, visto que não depende da intervenção em si, e sim da pessoa aceitar a doença e querer se tratar. Há sempre um interventor, que supostamente é o narrador e no final promove uma reunião, convidando além do protagonista, seus familiares e amigos queridos (geralmente pessoas que mais convive) e nesta reunião, cada qual traz um relato, do que cada um sente por esta pessoa, o que ela significa em suas vidas, etc. Narrando, como antes tínham uma relação afetuosa, o seu passado e hoje como se sentem em relação ao seu declínio, por conta do que está usando ou fazendo. É uma parte bem comovente e também um desabafo, pois neste momento, essas pessoas dizem que aquele dia, será o último de convivência (por orientação do programa), caso a pessoa não aceite o tratamento proposto (geralmente é uma clínica distante de casa). Diz que vai abandoná-lo de uma vez... Enfim, é uma forma de mostrar o quanto a pessoa é importante e que precisa salvar-se de alguma forma, e aí é com ela...

Às vezes, o "sujeito intervindo" aceita o tratamento e no final do programa temos uma boa notícia, que faz "x" tempos que não está mais fazendo aquilo , ou não, às vezes infelizmente a pessoa depois de pouquíssimo tentar, larga a clínica e volta a usar drogas ou continuar tendo os tocs, as paranóias e se nega a se ajudar, voltando a ficar do mesmo jeito que no começo do programa, largada, na rua, ou em abrigos...

Eu gosto deste programa, por alguns motivos, um é que eu acredito que devemos ter esperança de cura, em relação a qualquer tipo de enfermidade e acho que muitas vezes, famílias ficam desesperadas e não sabem mais o que fazer, são casos muito difíceis, mas tão comuns hoje em dia. Acredito que a abordagem do programa auxilia na identificação do problema, que hoje, aqui no Brasil, sem dúvida é de saúde pública, e não problemas de ordem criminal ou ilícita, e que, infelizmente há em cada família, pelo menos um caso de alguém que passa ou passou por isso...

Outra coisa que eu gosto, que não só via neste programa mais em outros: Eu sempre gostei de entender a mente humana, principalmente pessoas perdidas e desequilibradas. Sempre gostei de ler e assistir sobre pessoas que passam por transtornos ou que necessitam, de burlar sua mente com algo artificial, (drogas sintéticas ou não, bebidas e afins) para poder seguir sua vida e como isso tudo é de fato para si e para os que o rodeiam... 

Acredito que a mente humana é algo tão poderoso, tanto para o bem quanto para o mal, que ler ou assistir programas, filmes ou documentários sobre estas artimanhas e situações onde ela é moldada, alterada ou transformada pelo próprio homem, no mínimo me intriga. Essa necessidade absurdamente forte de fugir de sí mesmo, me deixa com vontade de aproximar, ver, sentir e tentar entender...



Também leio sempre sobre pessoas com traços psicopatas, porque sempre tenho a curiosidade de entender o que levou aquela pessoa a chegar àquele ponto, o que faz um ser humano fazer coisas tão absurdas e atrozes e na sua mente, entender que aquilo é um ato normal, de salvação ou de amor. Como vivia, qual era o cenário, as pessoas como intervieram em sua vida de forma a criar ou não o mostro que ali se mostra. Como alguém absolutamente normal, vivendo entre nós, como se nada estivesse acontecendo ou prestes a acontecer...

São os mistérios de nossa mente e de fato, como sentimos. Os poetas que me desculpem, mas os sentimentos estão na mente e não no coração. A mente nos produz sentimentos e nos orienta para tudo, ela entrelaça presente e futuro, aromas a pessoas, musicas a momentos e épocas vividas e nada isso tem haver com o coração, mas com a mente e seu emaranhado de neurônios e informações. Se a mente não vai bem, nenhum órgão por menos romântico que isso possa parecer, vai funcionar adequadamente. Como é possível  amar  e ser amado com a mente insana ou dependendo quimicamente de algo para acordar ou repousar...

Voltando a intervenção, eu não participei do programa, mas resolvi que eu precisava de uma intervenção. Ao contrário do que eu queria, pois sempre gostei de sentir as coisas como elas são, até mesmo para contar depois cada dor e cada delícia de cada momento, sem nenhuma química interferindo nas minhas vivências ou ponto de vista. Apenas, queria a normalidade dos fatos, sem intervenções de nada químico ou irreal. Acredito que a pior lembrança é de alguém que bebeu demais, é tenta recordar os diálogos, os cheiros, os gostos e as sensações que o corpo teve e simplesmente nada, não consegue... Há somente um grande apagão entre o antes e o agora, o caminho percorrido se foi no meio do gelo e do som... A memória agora pesa e dói, e a cabeça lateja e lateja como um eco de uma caixa vazia e perdida...

Ouvi algumas pessoas queridas e que realmente queriam me ajudar, intervir de alguma forma com suas histórias e experiências, um pouco de cada, assim como disse a Pietra esses dias para mim..."Mãe cada um tem que dar um pouquinho e a gente depois tem um montão!" E como o tempo corria e ele nos passa a perna, procurei uma médica, uma psiquiatra.

Claro, foi muito duro para eu aceitar isso! Não por preconceito de aceitar que estava precisando de ajuda, isso está bem claro para mim, mas por conta da intervenção química, que ainda que benéfica, me traz ainda muitas ressalvas em relação ao seu uso e o que isso faz na minha mente e conseqüentemente em minha vida. Seria eu agora um ser transgênico? Alterando quimicamente os meus pensamentos e ações... Meus sentimentos são verdadeiros ou é um estado que o remédio faz a minha mente pensar que está sentindo e ai sente mesmo...

Não há dúvida o quanto inteligente são essas drogas modernas... E esse sempre foi o meu grande pavor. O pavor da intervenção no DNA, nos neurônios entrelaçados em nossas memórias, sentimentos, nossas convicções, crenças, ressalvas e loucuras.... 




 Mas fui. Aceitei, porque o processo natural não estava sendo normal há muito tempo. E como escrevi há pouco, o tempo nos faz tomar decisões mesmo que contrárias do que o tempo todo acreditou antes ter. E sempre o tempo vem com essa brincadeira de esfregar na cara, atitudes nas quais outrora você repugnava, criticava, batia no peito e dizia: Eu não!!!!! E agora enfiam literalmente goela abaixo suas convicções, porque percebe que o tempo mais uma vez bate à sua porta e diz: Amiga?? Até quando???

Esse tempo é dor e é cura, é sábio e cruel, necessário para os que têm pressa, odiado para os que não têm.

Outra coisa que os remédios me causam é a desconfiança, é o assédio constante dos seus fabricantes aos profissionais de saúde (ainda estudantes) e suas pesquisas estatísticas quantitativas e não qualitativas. Somos meros números naqueles informes publicitários, belíssimos das indústrias farmacêuticas, somos parte da faixa etária, de uma cor que salta aos olhos nos folders envernizados, nas mãos de um propagandista belo e engomado (as embalagens sempre contam muito). O médico, rendido pelas migalhas dos planos de saúde, tendo jornadas triplas, raramente tem tempo para ler ou estudar a metade da farmacologia bombardeada o dia todo em seu consultório e aí, você é a cor, você é a faixa, e é você é que vai testar se o remédio presta ou não. Assuntos particularmente particulares a cada indivíduo, são automaticamente substituídos pelo grupo das faixas e cores e assim vamos nós, movimentamos e rica indústria e seus "staffs" de drogas lícitas.

A médica, disse-me que vou me sentir melhor em dez, quinze dias... Que no começo vou até achar que não está fazendo efeito, mas depois vou me sentir melhor.Hoje, faz nove dias que estou tomando o remédio. A sensação de tristeza é mínima, não sinto mais àquela vontade de chorar por cada folha que cai de uma árvore, não tenho vontade de esganar a pessoa que me não para o carro para que eu passe com as minhas filhas na faixa de segurança, a vontade de comer a geladeira também diminuiu, mas a sensação que estou exatamente é de uma pessoa que vive de ressaca, mas sem a dor de cabeça, sabe como se a mente não tem cem por cento de certeza, tipo um pós anestesia, que você sabe do panorâmico, mas não se atêm aos detalhes... 

Entro no chuveiro e o banho parece ser mais gostoso, não sinto a ansiedade de sair do box... Já consigo olhar os pés e cuidar das unhas, mas sem esmaltes, cores nas unhas, nem pensar! Somente fazer o básico mesmo, eu ainda não estou me sentindo preparada para as futilidades, elas ainda me atacam tal como ofensas. O sono pela manhã ainda é pesado e as obrigações de mãe, ainda me condicionam aos horários, mesmo que o corpo ainda diga que não.

O sentimento agora de ponta é a indiferença. Eu não gosto dele, mas não posso deixar de dizer que ás vezes ele é melhor de sentir que a dor. É egoísta sim, mas para um ser que se preocupava demais com tudo e com todos, como eu, acho que está sendo um aprendizado sentir indiferença. Mas dizer que eu gosto, ahh  isso não! E espero e registro aqui, que ainda não quero este no meu hall de entrada...

A leitura também está mais demorada, preguiçosa, tal como as idéias e opiniões....Nebulosas...Hoje até me lembrei e me vi como a Rê Bordosa (quem tem minha idade vai se lembrar desta personagem do Angeli, que vivia de ressaca no meio de uma banheira... ). No lugar da banheira (que infelizmente não tenho) eu me vejo no carro, no sofá, na cama e no meio das pessoas, como se existisse algo que eu esteja emersa e alienada, indiferente a tudo e a todos...




Estava preocupada em postar e com a minha indiferença aguçada da minha mente quimicamente modificada, escrever coisas que deixassem algo anormal de eu mesma. Registro constante do mau humor e do sarcasmo, terrivel isso... Como se eu não estivesse totalmente eu e a falta do domínio natural de minha mente, meus sentimentos, fizesse algo que ferisse alguém sem eu perceber, por isso também preferi não ler e não comentar sobre o que as pessoas escreviam.

Mas hoje, felizmente senti vontade de escrever.

Assim, vou me empenhar a voltar a ler os blogs que eu gosto e que sempre admirei, comentar, enfim... Vou continuar tentando,  propondo a minha mente que pare de ficar nessa nebulosa e resolva seguir, mesmo que ainda alterada e incerta, mas vou mais uma vez intervir a fim de não continuar me afastando, me impedindo,me privando...

Sei que a sensação que sempre tive, a vibração de cada manhã e a força do acreditar profundamente nos seres, só mesmo Deus que vai restaurar em seu tempo... Coisas assim não há remédio nenhum que o homem fabrique que possa manter o espírito elevado e a esperança, sem que Deus faça sua intervenção.

Também, como não poderia deixar de registrar, a ajuda de pessoas que de certa forma intervieram, com a intenção única de me auxiliar e me apoiar: Meu companheiro Carlos que agüentou firmemente à minha prostração diária, minhas filhas maravilhosas que somente com seu sorriso me disseram muito (não é Rafa?), Dama, Isa, Déia, Ester,Vaneza, Rafa, Sãozita, Lua, Jou, minha sincera gratidão no compartilhar...

Punto e basta!


Obs.: Acabei de ver a publicação da lindas Flávia e Geórgia O que elas estão lendo... (Obrigada!)

domingo

Eu lhes dedico antagônicamente! (Everybody Hurts)

Antagônico com certeza é mais elegante do que: contraditório, oposto, divergente e contrário!

Não quero falar melhor ou diferente, queria só ser mais elegante...

Elegância remete ao belo, ao correto, ao certo e ao chique!

Divergente foi este mês de julho, pois de férias a filha, foi o mês que menos descansei...

Contraditório, porque eu me sentia muito cansada de tudo, porém,  precisei estar inteira e disposta em todos os minutos e os segundos...Dos trinta e um dias deste!

Contrário, porque nos momentos que mais preferi o escuro e o escondido, precisei ir ver o contrário dos breus...Olhar o céu azul e limpo!

Antagônico porque as flores cresciam nas ruas, batiam na minha porta, entravam através do jornal entregue pela manhã, pêlas notícias...Na minha alma tudo estavo murcho!

Divergente porque recebi carinhos elegantes e mesmo assim não conseguia escrever e nem ler o suficiente...
Para ao menos ser correta!

Antagônico porque nos momentos que você mais se sente sozinho... E os dias são longos... Onde parece que tudo esta errado (If you're on your own in this life...The days and nights are long...When you think you've had too much of this life...To hang on...Don't let yourself go...Cause everybody cries...And everybody hurts, sometimes...)...

Na verdade você não está (No, no, no, you're not alone...)!
E você se contradiz e ao contrário do que você pensou...
Você não desisti de si mesmo (Don't let yourself go..) e continua em frente (Hang on)!

Contraditório porque a tristeza também faz coisas bonitas dentro e fora da gente...


Cada um sabe da elegância de ser o que é...

*Isa, *Mi, *Déia, *Márcia e *Vaneza, finalmente consegui responder aos carinhos dos selos e às homenagens de vocês....
(Ufa!)

Às vezes todo mundo chora... (Sometimes, everybody cries) Mas não estamos sós!

Meu muito obrigado à todos os antagônicos e elegantes seres...
Vocês não me deixarem só...
Nestes trinta e um dias deste!

* Estarão sempre na coluna lateral a direita - SELOS E INDICAÇÕES
* Quando às regras de indicar blogs para os selos? Estão dedicados também àqueles que neste momento, sentem-se ELEGANTES o suficientes para não deixar ninguem sozinho!
* Não deixem de ouvir a musica, a letra tem uma mensagem maravilhosa!