terça-feira

Duplex




Hoje me vi pensando em nosso corpo, nossa máquina... Coração, cabeça...

Pulmão.

Nas funções não biológicas e excenciais do nosso perfeito funcional. Pensei hoje nas imperfeições, no que pensamos e projetamos em nossa mente que faz nosso coração sentir...

A explosão celular, física e metabólica que induzimos o tempo todo, nossa circulação, movida ao nosso ar...

Nossa respiração!

Um dia soube de algo novo em mim, mas já estava contido dentro do meu ser, em cada parte do meu corpo, vivo e presente, mas calado.

E como um golpe na mente, acostumada a dominar a rotina, os cumprimentos, as
direções, os sentidos, os horários, as fisionomias e os gestos, as máscaras das risadas e do choro, nada pude controlar...



Minha mente projetava ódio, raiva, culpa, dor, medo e eu só conseguia pensar em achar algo que fosse resolvido, precisava achar uma solução lógica para tudo aquilo...

A mente só trabalhava, buscando portas, sentido, respostas, lógica, sequências...O coração pulsava, o pulmão se enchia de ar, o sangue movimentava e a maquina ia numa velocidade enlouquecedora para todos os lugares, pessoas e pensamentos, nas frases, nas perguntas e nas respostas...

O aperto e a dor, comprimia e tentava colocar tudo para para fora...




Mas as coisas às vezes não saem. Nem tudo que se pensa ou se sente sai... Porque não é conveniente, sábio ou sociável. A vida nos ensina diariamente, aprendemos muito, desde pequenos, bebês, a nos conter, nos gestos, nas palavras, nas risadas, nos sons, nos olhares e nos desejos... Não podemos espalhar dor, alegrias, (não vou voltar no assunto dos exageros), mas tudo tem que ser milimetricamente dosado, porque senão aborrece a normalidade dos que tem a serenidade de respirar o necessário, soltar pela boca e manter a pressão sanguínea estável!

Os estáveis devem ter pulmões limpos.

Mentes equilibradas.

Falam baixo e respiram...

Sim os pulmões, são quartos bem grandes, aqueles que apresentamos, como "guarda
tranqueira", onde  você guarda parte de sua vida, de suas memórias e de sua história..
A tranqueira que a gente não percebe, mas tá sempre carregando como um caramujo, grudado e rijo em nosso corpo...É a bagunça que não deixamos ninguém ver, porque temos que guardar nossas angústias, nossos medos, nossas aflições, nossas vontades sufocadas, nossos desejos, nossas gulas, nossos gritos de horror e medo, nossa indignação, nosso ar sujo que não podemos jogar, não só os desatinos de nossas praticas do corpo, mas a desordem de nossas mentes...

Coisas, coisinhas, bugiganga que puxamos pelo nosso nariz do mundo e enfiamos dentro do nosso corpo... E tudo isso fica lá guardadinho do nosso enorme e elástico pulmão.

Vai pondo nele que cabe, cabe tudo, cheiro de importados e importantes, cheiro dos escapamentos, cheiro de bicho, de gente, do cheiroso e do fedido, cheiro de vida e de morte, todos os cheiros que o seu nariz faz você cheirar e o seu coração impulsiona seu sangue a guardar...

Respira fundo, bem fundo e vai...A vida impulsiona a maquina.
Você
precisa seguir, cada um com o seu duplex!

Porque mesmo os cigarros, as drogas, os ambientes e
perveções que você deve ter cheirado, coloca tudo dentro dele e depois segue...
 
Ninguem precisa  (nem quer ver) ver seu quarto de bagunça!
 
Neste dia meu ar ficou tão pesado e gordo no meu quarto, por mais elástico que ele tentou ser não resistiu, ficou com uma pneumonia.

Pulmões ficam com pneumonia quando estão cheios de mágoas e angustias. Quando estão atolados de
sujeiras, de sapos grandes, de coisinhas pequenas que parecem que não, mas vai ocupando muito espaço, no seu grande e duplo espaço.
Um dia você precisa aprender a esvazia-los, a faxina, a ordem do armario e toda teórica relacionada a sua vida pessoalmente relacional financeira.
Aprendi a tentar esvazia-los chorando e dormindo.

Dormindo o ar é inóspito, aleatório e até mesmo descaracterizado de qualquer ligação com sua mente, mesmo que você durma no meio da rua ou num colchão com lençoes de cetim...

O ar será filtrado e expelido numa boa noite de sono. Seu sangue vai circular, sua mente vai estar em repouso...

O seu quarto se manterá como quando voce o deixou pela ultima vez... Chorando, pois chora-se com olhos abertos. porque você força ele a fazer uma faxina e esvaziar, como num desespero por tudo que se sente durante o choro, lava-se a alma e lava-se o pulmão...



quarta-feira

Noite




Sempre fui de um corpo noturno, desde criança... Preciso da noite para meus encontros.

Encontro de corpo e mente. Do que se vive, do que viveu... O saldo do dia, como, com quem e porque...

Sempre me senti melhor a noite, sempre... Parece que meu corpo se transforma, que meus impulsos se acalmam para aguçar os sentidos, as dosagens de sentimentos.

Meus pensamentos ficam num ritmo mais passado e mais centrado, consigo sentir cada coisa de cada vez...

Os ruídos me irritam profundamente e com isso mais que emoção do que objetividade e os pensamentos e decisões saem em atropelo, em meio ao caos...

A vida faz muito barulho, a movimentação impulsiona, levanta, ergue, segue,  mas confunde, distorce e enlouquece!

Só depois de muito tempo percebi que alguns encontros servem para que possamos experimentar a arte de pensar de forma organizada, ou seja, enganar a mente para o simples para que se possa dar conta do complexo.

Claro,o complexo no meio do eixão parece uma simples cutícula.

Cutículas podem ser pequenas ou grandes, um dia você vai ter que parar para pensar nelas, com mais cuidado com que vem pensando ou tendo a oportunidade de pensar...
Descobri isso com mais de 35 anos. Apesar de desde sempre meu corpo me avisar.

O grande eixo que movimenta o nosso dia não permite que possamos avaliar todos os nossos pensamentos. Precisamos do silêncio da noite para que possamos diluir nossas idéias, nossos diálogos, nossas conquistas e nossos sofrimentos.

Precisamos viver,reconhecendo e preservando nossa essencia, onde é necessário não só a produtividade através de esforços físicos e intelectuais, precisamos aglutinar, soltar, corresponder, comparar e finalmente contabilizar daquilo que se vive, para que não somente vá, nos arrombos, no supetão de nossa sobrevivência...

Na noite podemos ser o pensamento e não a ação.Podemos não o reagir e sim o digerir.

Podemos sim o dentro e não o fora...