Compreendi nesta última quarta-feira, como é que o gado se sente quando é vacinado!
Senti mesmo, que faço parte de uma grande boiada que precisou ser imunizada. Eu como mulher que sou, senti-me como a própria "vaca", o que é fazer parte deste rebanho.
Eu como uma "vaca" bem medrosa com agulhas, prorroguei ao máximo à ida ao cocho mais próximo, porque eu odeio que me furem... Pensei: Ultimo dia eu vou! Prorrogaram... Mais dias... Prorrogam mais alguns... Ah, agora eu vou ter que ir... Coragem! Não tem mais jeito!Tem um cocho aqui bem próximo de casa, grande, bastante espaço, vaqueiros e pastores prontos para colocar ordem.
Eu já sabia de outras campanhas, que naquele cocho, como em muitos espalhados por ai que esses vaqueiros e vaqueiras não gostam muito de aglomeração destes ruminantes, porque eles ficam realmente muito irritados com esta mistura de raça... Se não pode nem mudar a cor da grama, imagina misturar os animais! Novilhos com vacas, bois de corte com reprodutores, acho que ficam confusos e se estressam demais... Também, com a rotina tão assoberbada destes funcionários municipais, dá até para entender.
Além do mais eu odeio estes vírus sintéticos, mal explicados e testados, mas um vírus a mais um a menos no lombo... O que tem demais? Quase toda a boiada já foi... Tem que ir... E foi assim no cocho mais próximo:
Estava eu portando meu bezerro mais novo, no BB conforto "Bezerroto", entrei e vi muitas vacas e bois, todos com aqueles números pendurados na orelha, ai pensei: Bem, eu tenho que pegar o meu número. Me dirigi ao capataz e perguntei:
- Por favor, qual é a fila para a senha?
Ele me respondeu:
-Se for vacinar o bezerro é na outra porta...
Bem, eu paciente como uma boa vaca educada que sou, sim pensando, se fosse para vacinar o bezerro não estava no grupo da vacina H1N1 (tudo bem que tem muitas vacas e bois que não lêem nem se balançar a placa na frente... Mas eu costumo ler, sou uma vaca leitora e blogueira!) Enfim, respirei e continuei com minha educação:
- Não Sr, não é o bezerro... Sou eu que preciso me vacinar!
Ele tão educado respondeu:
- Então espera!
Ah... Deu-me meu número para pendurar na orelha, número 44.
Com um sinal, através das mãos, alguém fez a fila do gado seguir... Como gado não sabe falar, então as pessoas não tem por hábito falar, apenas sinalizam e pronto.
Parei na porta, numero na orelha, uma mulher com os braços cruzados, infeliz em seu dia fatídico de vacinar o rebanho... Fiquei pensando o que ela pensava... Pensava nas horas que o rebanho se recolhesse e ela finalmente pudesse ir para sua casa, só pode ser, porque sua cara era aterrorizante...
Perguntei bem baixinho (estava com medo, muito medo mesmo!)
- Posso entrar?
- Ela ainda na linguagem dos sinais... Convicta de que eu na condição de vaca, não merecia o som de sua voz... Fez um pequeno gesto com suas mãos... Espere... Pare! Não! Ah cada animal interpreta como quiser ou puder! Eu entendi que era não... Sei lá... Vai que eu entro e levo um oooooooooo... (famoso "breque de boi').
Esperei.
Passaram alguns minutos...
Ah, tinha uma senhora vaca, simpática atrás de mim, o número 45, ela me perguntou se eu queria deixar o bezerro com ela... Se eu confiava? Quando ela falou "se você confiar" ai não sei por que, não confiei! Coisa de vaca louca, vaca encanada, vaca atolada... Sei lá... Não deixei a Brisa com ela!
Ah... A mulher bizarra, leoa de chácara, descruzou os braços e fez um gesto com as mãos que era para eu entrar! Tirei o casaco... Fiquei de camiseta manga longa... Ela me olhou... Reprovou, bufou e finalmente ouvi a voz daquela senhora!
- Não vai dar!
- Não vai dar o que? (Pensei em milésimos de segundos, ufa escapei desta porcaria!)
- A camiseta. Tem que tirar...
- Ah Ok.
Olhei para a porta... Ela sem titubear, bateu na cara daquela senhora simpática... Coitada, vaca tão bondosa...
Passou o algodão e veio o pulo, reação, reflexo, dor não dor, aquelas coisas que sentimos quando uma agulha entra assim de supetão... No meu caso, acho que eu jamais vou me acostumar com essas coisas entrando em mim de uma forma assim brusca, não sei, me sinto totalmente invadida!
Quando a vacina entrou, o corpo reagiu, um pouco para trás... Assim... Acho que é normal... Mas ela, definitivamente não gostou!
- Não adianta ir para trás, que enfio com mais força! - Ela disse.
Respondi:
- É que foi reflexo... Foi sem controle... Mas se a senhora tivesse me dado um toque, assim que iria enfiar a agulha, acho que eu teria segurado o corpo! (dei uma risadinha sem graça)
- Não é minha obrigação avisar quando vou enfiar a agulha!
(Afinal de contas você faz parte do gado que eu tive que vacinar nos últimos 200 dias)
- Ah... Claro, Não é obrigação, mas a senhora poderia ser mais simpática e avisar, olha agora vou picar... Ai a gente se prepara, mas com essa cara e esse mau humor...
Eu não aguentei, poxa, para que tratar a gente como bicho, como gado? Assim sem haver a mínima comunicação e respeito? Por quê?
- Também com estas coisas que escuto aqui... - ela completou elegantemente.
- Me desculpe, mas eu não fui mal educada com a Senhora... Mas a Senhora está com esta cara feia desde que eu cheguei, mas beleza, obrigada, tenha um bom dia!
(Acho que ela pensou, ah essa vaca deve ser Nelore, ela fala e até reclama...)
Sai, parei ali na frente e falei para um novilho, sentado ali no banco de cimento do ponto de ônibus, onde apoiei minhas coisas... Então, desabafei:
- Este posto é horrível, porque somos tratados assim?
Ele respondeu
- Eles são rudes, né...
- Muito, porque será?
Ele falou
- Não há explicação lógica para isso...
Aí, fui pensando... A explicação é lógica! Claro!
EU SOU UMA VACA E PRONTO!
