domingo

Dia das mães - Parte I*

Nunca levei muito a sério esse negócio de "Dia das Mães", "Dias dos Pais", dia disso, dia daquilo... Porque todos nós sabemos que é para aquecer o comércio, só quem já morou em SP, sabe a loucura que vira o dia dos namorados, a cidade entre em pânico! Mas tudo bem também, ter um dia para refletir e homenagear essas pessoas importantes que fazem parte de nossa vida, tal como as crianças, que curtem os coelhinhos da Páscoa e o papai Noel.

Faz parte da nossa história e porque não ter um dia especial para comemorar os acontecimentos e as pessoas?

Aqui em casa não fazemos muitas comemorações destas datas, por  falta da hábito... Ontem mesmo veio um casal em casa e comentamos que valores e costumes são inseridos em nossa vida, na infância e adolescência. Às vezes, alguns hábitos inserimos com o casamento e com a convivência de amigos, mas
é  difícil praticar os encantos da inocência, que outrora  não foram vivenciados....

Hoje, foi comemorado o dia das mães e vou falar um pouco sobre isso.

Minha mãe é uma mulher muito bonita, inteligente, capaz, batalhadora, de muito bom gosto e educação, mas nunca foi boa mãe para os olhares de uma sociedade com os nossos moldes. Eu também demorei uns trinta anos para respeitar suas atitudes. Entender não significa aceitar como certo, apenas respeito suas atitudes diante de situações realmente difíceis e tristes em sua vida, acredito que foram decisões dolorosas e para cada escolha, há sempre uma renuncia...

Ela  casou-se com meu pai, grávida do meu irmão,  louca para sair de casa, isso aos 18, 19 anos. Meu pai , um cara bonitão, mas muito mulherengo, boêmio, machista, bebia muito, violento e muito mimado pela minha avó. Só saiu da casa dos meus avós por falecimento aos 60, nunca quis ficar longe de sua mãe...
O casamento, claro, não deu certo!




Nós somos em três, "escadinha" como diziam (com a minha mãe, pois, meu pai tem mais duas filhas da segunda união), a cada reconciliação uma nova gravidez e depois as decepções,  as brigas e o afastamento ...assim foi durante sete anos. A separação de fato ocorreu quando eu estava com 6, 7 anos.

Numa noite, em casa (dos meus avós...), passaria um filme de terror e meu pai que amava como eu, assistir filmes até muito tarde, perguntou -me se quereria assistir com ele, rapidamente eu disse sim e minha mãe disse que não e pediu-me que fosse para o meu quarto! Muito brava, a obedeci, minha mãe não era alguém  que desobedecíamos, seus castigos eram severos e tínhamos muito medo de apanhar dela, ela batia com qualquer coisa e em qualquer lugar! Fui para o quarto chorando e minha mãe falou que ia me contar um segredo ...

Então, soube que no dia seguinte ela iria fugir de casa, com os três filhos nos braços, rumo a Atibaia-SP, para trabalhar como promotora do Avon e que se eu não contasse nada ao meu pai, ela deixaria eu assistir o filme com ele...

Aquilo, foi um misto de choque, alívio, tristeza, orgulho pela coragem dela ...Eu não sabia exatamente o que pensar e o que fazer, lembro de apenas ter ido assistir o filme com ele, encostando minha cabeça em seu ombro, pensando no segredo e nos dias que seguiriam sem mais os filmes até tarde da noite com meu pai, só pensei nos filmes e no meu pai...

No dia seguinte, cumpriu-se o dito, ela chamou um caminhão de mudança, pegou algumas coisas, colocou-nos em um fusquinha azul e fomos embora...

No inicio foi complicado, dormíamos em um quarto, dividindo um colchão de casal e as marmitas, visto que ela ainda não tinha recebido o primeiro salário e precisava economizar o que tinha juntado, meu pai nunca a deixou trabalhar . Imagino quanto tempo ela tinha segurado os trocados do mercado para a fuga...

Depois nos estabelecemos em Atibaia e após ela começar a receber seu salário mensalmente, tivemos uma vida material confortável, seu cargo lhe proporcionava um bom salário e um Chevette do ano!

Não sei quanto tempo se passou para que eu visse meu pai novamente, não consigo me lembrar nem como, nem quando ...apenas me lembro das tarde no clube Cultura Artística, que ficávamos quando o final de semana era com ele. Passavamos (os três filhos) o  dia todo nadando, tomando refri e comendo batatinha "chips"...assim aprendemos a nadar na raça, pois, meu pai sempre bebia muito e ficava nas rodinhas, muito alegre e divertido ... amo nadar até hoje!

"Eu... eu... nem eu mesmo sei, nesse momento... eu... enfim, sei quem eu era, quando me levantei hoje de manhã, mas acho que já me transformei várias vezes desde então." (Lewis Carroll)

*Hoje vou fazer como meu amigo de blog o Robson, escrever sobre o tema em duas etapas, uma porque é longo, outra porque este assunto dá muitos nós em minha cabeça e no meu coração!

3 comentários:

  1. Andreia, Mandei um convite para você participar do Meme, fique a vontade para aceitar ou não ok. Daqui a pouco vou comentar seu post, bjus! Má

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  2. Andrea, sabe que você é uma vencedora, pois passar por essas experiências e ser uma pessoa tão digna como você é, realmente mostra que aqueles que tem objetivo vencem!

    Entender uma pessoa dentro da sua realidade de vida é sempre mais fácil do que entender "nossos pais" em suas atitudes que muitas vezes são contra o que queremos para nós e nossa relação com eles.

    Grande beijo!

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  3. Andrea...a história pode continuar, mas o que li até agora é muito bonito, e dificil de ser contado.

    Admiro a coragem, a superação de passar por problemas como esses e conseguir supera-los e hoje conta-lo a nós "estranhos" com tanta verdade.

    Aguardo a conituação.

    beijão.

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