terça-feira

Uma questão de comunicação...


A comunicação é algo incrivel... Fico analisando em forma e conteúdo como as pessoas andam se comunicando e isso me deixa confusa... Tão complexo ficou o ato de se comunicar!

Percebo que quando vou escrever tenho dificuldades nas palavras, em traduzir o que penso e isso me deixa incomunicavel,porque me preocupo mais com a forma, do que com o conteúdo, com quem e como... Sinto ter tantas coisas aqui trancadas, para serem analisadas, compartilhadas, criticadas ou até para que sirvam de conforto e não sei como falar, para quem e qual o momento... E elas ficam pesando e se embolando e os pensamentos ficam me gerando confusões e dúvidas... Então, fico procurando sintonizar as pessoas, pessoas através dos seus textos e das sua imagens (ou videos) para que eu possa encontrar-me ou encontrar um meio de comunicação...

Vasculho na leitura quase que diária dos blogs,dos livros, de diferentes tipos de comunicadores, diferentes idades, mundos, realidades, pessoas que se expressam em momentos, andares diferentes, porque estão vivendo em situações adversas, como se tivesse que haver pessoas certas para sua linha de comunicação...

Isso é comunicar-se?

Procurar pessoas como em uma rádio: Agora preciso de musicas lentas, não tem que ser as gritadas, calmas agora por favor, pauleiras forever, precio relaxar numa instrumental...Comunicar seria no meio do turbilhão dos sons e da tempestade de palavras, ter a sensibilidade para ficar procurando gente para comunicar-se?

Será que precisamos fazer tantos desenhos, usar tantas imagens para sermos definidos porque não conseguimos mais nos comunicar? Será que não nos comunicamos bem quando não usamos belas palavras ou palavras que ninguem entende?

Porque tantas pessoas acham maravilhosos textos que ninguem entende?

(Ou sou eu que não entendo esta comunicação, que mundo será que vivo ou ando vivendo...)

Fico lendo textos que não entendo, será um enigma? Será que eu preciso descifrar a pessoa, para me "plugar" (tipo Avatar) depois enfim poder me comunicar?

Que coisa complicada virou esse negócio de comunicação...

Dirija-se ao amigo do balcão B, q u e  e s t a  a s s i m  n o  m e s m o  r i t m o,  mande um e-mail, pegue uma senha.. Afinal ele anda um bocado ocupado demais com essas coisas ultra modernas e não pode simplesmente conversar! O que é conversar afinal sem um grande título, prefácio, indice, e até vocabulário ou dicionário, sei lá,  vc já fez o seu indice para falar com seus amigos, os amigos tem capa, contracapa, e muitos índices, qual voce deseja, pois não podemos "jogar" palavras fora, "bater papo" quem foi o louco que bateu em tão sintuosas palavras???



Não serve também  frases de clichê (o que é um cliche), cuidado com eles, não é também de bom tom... Pois tem as REGRAS para a comunicação escrita ou falada, não pode pensar assim igual todo mundo, se não o nome é clichê e não o nome que você queria falar, você na verdade não pode usar essas palavras por que muita gente já usou...Então tem o problema de palavras muito USADAS... então a p...ou o michê das palavras,na verdade é o clichê, notou que o som é o mesmo para você não se confudir... Diga com quem tú escreves que te direi quem tú és... Sentiu que fiz as duas coisas na mesma frase, o clichê e a dica (ma não pode).

Mas, por que só aparece na empresa pessoas cuja comunicação é polida por embalagens (lindos laços) e hipocresias, os verdadeiros sempre são os maus comunicadores? Pessoas que usam palavras simples ou fora de concordância são motivos para o Rei da Cocada Preta, ilustrar sua palestra motivacional..."Ah nosso faxineiro teve a brilhante idéia de aumentar o orifício da pasta de dente..." 

Aplausos para o cara que falou do FAXINEIRO!

Precisa mudar o tom, o ritmo, a melodia, precisa mudar a orquestra toda, ser um compositor, um maestro... Ai sim tera peso e valor (mesmo que ninguem continue não entendendo, como as óperas, duvido que metade entenda!)

E a imagem não conta? Conta! Uma pessoa merecerá ser escutada se nela estiver o bonito, o alegre, o bem relacionado, o corretinho, o patinho bem  embrulhadinho, certinho, limpinho... Pessoas corretas são pessoas  inteligentes,cultas, sempre estão bem penteadas, alisadas,chapadas, equilibradas e maquiadas.

Precisam estar assim para  participar dos mais seletos grupos, os grupos dos que falam bonito e equilibradamente bem...




Isso é comunicação?

Porque precisamos de tantos artificios para se chegar um ao outro, porque precisamos de tantos aparelhos e essa parnafenalha toda de pods e pods se não pode nada!

Será que não tem gente ainda vivendo por tras dos fios, dos cabos, do dicionário, do lúdico, do abstrato, do surreal do magestral ou todas essas besteiras que as pessoas inventam para parecerem melhores que as outras e no fim de melhor não tem nada, porque não conseguem mais a comunicação afetiva, o olhar profundamente o outro?

Será que temos que nos vestir de andróides para sermos escutados, Será que nossos olhos, nossa temperatura não nos mostra o suficiente para que possamos nos comunicar?

Ah isso são para os animais... Então eu sou um animal, pois a comunicação atual esta me tornando incomunicável!

Então precisamos estudar muito e sermos intelectuais para achar que o arroz com o feijão é delicioso?
Não, seria necessário comentar isso numa rodinha neo liberal ,numa mesinha rústica de mil reais, com a toalhinha de chita "charmosa",  num restaurante tipicamente "rustico" para que isso tenha causa e efeito?

Ou preciso de sorrisos pós laser, brancos radiante, o  falar manso e brando, parecer-me sempre disposta e de bom humor, pois os mau humorados também são seres que não podem comunicar-se (é Dunga não pode)!

Não pode nada, melhor só olhar nos olhos, olhos pelo menos acho que todo mundo tem igual!




(Sintonizando rádios desses brilhantes blogueiros: Lia Araujo, Gilmar Morais, Robson Scheneider Albuq, entre outros...)

sábado

Um para rir e outro para chorar....

Tenho dois filmes para indicar: Ambos são filmes que tratam de superação, daquelas "brabas", quando todos dizem NÃO e aí  você diz SIM...

Eu quero mais, eu preciso de mais do que isso para minha vida e assim por diante...

Pensando assim em sair da engrenagem, da fila da formiga, do óbvio ou de qualquer grande e gordo circulo que você esteja no momento:

Para rir, é uma animação dinamarquesa,"Barry e a Banda das Minhocas", só pela trilha sonora já valeria a pena (Boogie Wonderland, Disco Inferno,Upside Down, Yes Sir, I Can Boogie, YMCA, Blame It On The Boogie, Love To Love You,  I Will Survive,. Le Freak, Play That Funky Music ...entre outras), não entrando no mérito da questão técnica...O filme é hilário e definitivamente para adultos.




Para chorar muito e achar que a sua vida é uma belezura, o drama:  Preciosa - Uma História de Esperança, de Lee Daniels. Com certeza é um dos filmes mais tristes que já assisti. Teve seis indicações para o Oscar, nos quais ganhou cinco...




"Temos de fazer o melhor que podemos. Esta é a nossa sagrada responsabilidade humana."

Albert Einstein

Bjs e bom final de semana!

P.S. Lendo e assistindo a tudo que é possivel, para não entrar numas que eu também virei uma minhoca preguiçosa, pois ando gostando por demais dos buracos...onde nem as minhocas mais querem ficar...rsrsrsr

quinta-feira

O olhar feminino por Pietra

Pessoal, o video abaixo, eu fiz para participar do concurso Femina, do blog Milk Shake de Palavras



Como a mãe não estava lá muito inspirada para um bom texto... Solicitou a ajuda de sua filhota, Pietra de 6 anos que vai dizer o que ela acha do "Olhar feminino":



É isso aí!!!

Bjs Lu e Marcinha  e espero que a Pietra ganhe para a mamãe de presente o livro: Antologia Femina - "Olhar Feminino"








quarta-feira

Regina Brett...E os números.


Semana passada fui à uma clínica médica e na recepção,  vi três páginas penduradas no mural de avisos, com o titulo abaixo (em vermelho) 45 frases, achei muito bom e concordo com todas as 45 lições... Porém, antes que você as leia, ou diga: "Nossa eu já li estas frases nos blogs e nos e-mails por ai "trocentas" vezes", eu gostaria de falar que, primeiro, eu nunca havia lido tal frases, nem por e-mail e nem através do blog de ninguem (achei que alguem também poderia gostar). Mas, o que mais me chamou a atenção, que fazendo uma rápida pesquisa, descrobri que apesar de muito divulgadas as lições e seu título (mais de 400 mil acessos):

ESCRITO POR REGINA BRETT, 90 ANOS.
(Achei até um blog que tem a imagem da velhinha de 90 anos junto ao texto...)

A Sra Brett, tem hoje, apenas 54 anos (Veja a explicação/correção nesta página) e escreveu essas frases aos 45 e disse que quando completasse 50, acrescentaria mais 5, ficando então as 50 frases, que publicou em seu livro: "God Never Blinks" ((leia mais aqui)



Ela afirma que é uma lenda urbana... (Sobre Regina Brett) e que não entende o odometro da net, com seus 90 anos...

Interessante isso, de como a Internet que muitas vezes imaginamos ferramenta riquíssima de pesquisa para nós e para nossos filhos, tornam verdade para mais de 400 mil pessoas uma mentira em questão de segundos...

Fiquei pensando nisso e mais uma vez assustada com o mundo que vivemos, onde atribuo isso também ao fato da falta do contato físico, da conversa e da troca de palavras e informações, assim olho no olho, às vezes o tão comodo e econômico, clicar,  nos fazem preguiçosos com o nosso aprendizado, porque a partir de uma mensagem, muitas vezes tomamos aquilo como verdade e passamos adiante (como falsos e-mails e/ou falsos pedidos de ajuda ou avisos policiais, etc ) porque não estamos mais preocupados com o teor e sim participar da grande corrida da velocidade... Sim os conteúdos demoram demais...

Como que nas relações, muitas pessoas, uma grande mutidão, mas de pouco teor...

É a era da distância e do tanto faz, dos vazios, da quantificação em troca da qualificação.Assim produzimos aos montes comidas, colegas, beijos, roupas, lixo, relações, palavras, sentimentos, remédios, doenças, pensamentos, mentiras...

Corre e pega rápido se não acaba!

E o twiter aí gente!

Corre, Corre, Corre, pega o instantâneo se não vc fica por fora!

Assim, somos os produtos em série deste mundão, os humanóides da linha de produção... Fazemos mais um número desta estatística, de médicos com seus testes, somente quantitativos (eles não querem saber se vc se alimenta ou vive diferente, na pesquisa diz que vc esta na faixa etária x então tá dentro, toma e pronto). 

Somos da geração quantidade! Das relações do números de pessoas a serem somadas no final da noite... E aqui na blogesfera, o numero de "seguidores", que no fim somam mais e mais quantidade do que qualidade...

E os números... Não sei porque eles me perseguem.... 

Mas, para quem não leu, vai as 45 lições:

Para celebrar o envelhecer, 45 lições que a vida lhe ensinou:
1. A vida não é justa, mas ainda é boa.
2. Quando estiver em dúvida, apenas dê o próximo pequeno passo.
3. A vida é muito curta para perdermos tempo odiando alguém.
4. Seu trabalho não vai cuidar de você quando você adoecer. Seus amigos e seus pais vão. Mantenha contato.
5. Pague suas faturas de cartão de crédito todo mês.
6. Você não tem que vencer todo argumento. Concorde para discordar.
7. Chore com alguém. É mais curador do que chorar sozinho.
8. Está tudo bem em ficar bravo com Deus. Ele agüenta.
9. Poupe para a aposentadoria, começando com seu primeiro salário.
10. Quando se trata de chocolate, resistência é em vão.
11. Sele a paz com seu passado, para que ele não estrague seu presente.
12. Está tudo bem em seus filhos te verem chorar.
13. Não compare sua vida com a dos outros. Você não tem idéia do que se trata a jornada deles.
14. Se um relacionamento tem que ser um segredo, você não deveria estar nele.
15. Tudo pode mudar num piscar de olhos; mas não se preocupe, Deus nunca pisca.
16. Respire bem fundo. Isso acalma a mente.
17. Se desfaça de tudo que não é útil, bonito e prazeroso.
18. O que não te mata, realmente te torna mais forte.
19. Nunca é tarde demais para se ter uma infância feliz. Mas a segunda só depende de você e mais ninguém.
20. Quando se trata de ir atrás do que você ama na vida, não aceite "não" como resposta.
21. Acenda velas, coloque os lençóis bonitos, use a lingerie elegante. Não guarde para uma ocasião especial. Hoje é especial.
22. Se prepare bastante; depois, se deixe levar pela maré...
23. Seja excêntrico agora, não espere ficar velho para usar roxo.
24. O órgão sexual mais importante é o cérebro.
25. Ninguém é responsável pela sua felicidade, além de você.
26. Encare cada "chamado" desastre com essas palavras: Em cinco anos, vai importar?
27. Sempre escolha a vida.
28. Perdoe tudo de todos.
29. O que outras pessoas pensam de você não é da sua conta.
30. O tempo cura quase tudo. Dê tempo.
31. Indepedentemente de a situação ser boa ou ruim, irá mudar.
32. Não se leve tão a sério. Ninguém mais leva...
33. Acredite em milagres.
34. Deus te ama por causa de quem Ele é, não pelo que vc fez ou deixou de fazer.
35. Não faça auditoria de sua vida. Apareça e faça o melhor dela agora.
36. Envelhecer é melhor do que morrer jovem.
37. Seus filhos só têm uma infância.
38. Tudo o que realmente importa, no final, é que você amou.
39. Vá para a rua todo dia. Milagres estão esperando em todos os lugares.
40. Se todos jogássemos nossos problemas em uma pilha e víssemos os de todo mundo, pegaríamos os nossos de volta.
41. Inveja é perda de tempo. Você já tem tudo o que precisa.
42. O melhor está por vir.
43. Não importa como vc se sinta, levante, se vista e apareça.
44. Produza.
45. A vida não vem embrulhada em um laço, mas ainda é um presente"

segunda-feira

Minha espiritualidade...Fui convocada!

(continuação do post: Minha espiritualidade II)

(Guarujá-SP- Vista da praia da Enseada)

Ele me levou para sua casa, suplicou para que seus pais me deixassem ficar por uns tempos, qualquer lugar servia, mas sua mãe não permitiu. Foi a primeira vez que vi um homem de 1,96 de altura, de joelhos, mas sua mãe não cedeu, disse que não éramos casados... Não dormimos naquela noite, conversamos muito e ele lembrou-me da irmã que estudava e morava no Guarujá-SP, imóvel dos pais também, este sim a mãe permitiu, sob a condição de eu dormir no quarto de empregada (eu não poderia dormir nos quartos da família) deveria ajudar na limpeza da casa e contribuir com as contas. Trabalhei em lojas de roupas, no Shopping Enseada, das 10 às 22 horas, de domingo a domingo, pois só ganhava comissão, a época era boa, de férias, não parávamos nem para o banheiro, tive até pedra no rim, mas ganhei o suficiente para ajudar nas contas e para quase todos os gastos com o casamento. Trabalhei até o final da temporada, final do Carnaval, acabaram-se os turistas, acabaram-se as vagas... Tive que voltar para a casa do meu pai, porém de casamento marcado para o final do ano. Cuidei das gêmeas por um tempo, depois arrumei emprego e finalmente novembro chegou!

(Igreja Nossa Senhora do Rosário -Campinas -Foto de Eduardo M. P. Dantas)

Pagamos os gastos do nosso casamento e mesmo ambos sem credo ou religião, casamos na Igreja Católica, seguimos o conveniente e o convencional. Alugamos e mobiliamos uma casinha simples,  proxima a Osasco. Ganhei o vestido de noiva, a champanhe e o bolo do meu pai, em sua casa, apenas para o brinde, não tivemos festa, mas ele entrou com My Way , eu com Pompa e Circunstância,. Não tive lua de mel e nem a viagem, minha mãe e seu namorado estavam entre os que estavam nos bancos, alguém os avisou da data... Ao final da celebração, na porta da igreja, ganhei uma noite em um hotel da cidade, como um presente. No dia seguinte, seguimos para Osasco, vida normal, havia uma banca de jornal nos esperando, uma nova jornada... Trabalhávamos muito, das 5h da manhã até 19h, depois comecei a fazer faculdade e estendia até 23 horas... Depois comecei a vender trufas e bombons na faculdade e às vezes conseguia dormir umas 4 horas por noite, tivemos alguns comércios, bancas de jornal, banca de flores, loja de ração, muitos cachorros, gatos, muito trabalho, pouco dinheiro e muita distância... Arrumei um outro trabalho, uma clinica, no qual fiquei quase dez anos, nossos horários e hábitos não se encontravam mais e infelizmente quatro anos depois nos separamos...

Um dia percebemos que não fazíamos amor há meses... Não nos tocávamos quase nunca... Conversas sobre o quanto comprar, aonde e para que... Eu mergulhada em meus objetivos (estudar e trabalhar) não o via mais, e ele mergulhado em seus afazeres (comércio) também não... Eu com meus 24 anos e ele com seus 28, agora em caminhos opostos... Amor não alimentado  é amor morto!

A vida tem muitos caminhos, pessoas e coisas para que possamos nos distanciar do essencial para nossa vida, porém só nos damos conta quando já estamos muito distantes, quando já percorremos um grande e longo caminho... E nestes caminhos, como uma floresta, há muitos lobos e carneiros, mas os lobos são sempre mais atraentes, a felicidade instantânea como num envelope de sopa em segundos ficam penduradas o tempo todo na sua frente, você pega, coloca uns segundos no microondas, meche e engole... E simplesmente segue, vai para a próxima rua, encontra outro envelope e toma e segue, pegando e seguindo... Sempre em frente... Sem se preocupar com as marcas, arranhões, picadas ou mordidas, você se alimenta e vai!
Depois de seguir tanto, você percebe que não eram bem aqueles sabores, nem aqueles lobos, nem tão pouco aqueles carneiros, mas você já faz parte daquilo, já virou uma arvore, grossa, já está com muitas folhas, já comeu, bebeu, passou frio e sobreviveu no meio de tudo aquilo a base dos expressos, dos instantâneos e não parou para sentir nem saber sobre nada, nem dos perfumes, nem das essências...Não percebeu que não teve frutos, que não se uniu a nada e nem a ninguém, você só criou cascas!

Eu era uma grande árvore oca, cascuda e sem frutos...

Fui ver minha mãe quando me separei, depois de muita insistência dela... Mais de cinco anos sem sequer trocar um telefonema, recebia suas cartas, seus recados, seus postais de vários lugares do Brasil e do mundo, mas não os respondia até então... Voltamos a nos relacionar na separação. No período em que estivemos casados,  eu comecei a pagar um apartamento popular e ele um grande terreno na Grande SP, ele sonhava com a casa e eu com o apartamento próximo ao meu trabalho... Na separação cada um ficou com o seu sonho, ainda que no papel... Eu tive que ir para uma pensão, pois não ganhava o bastante para a faculdade, a prestação do apartamento e mais outro aluguel, fora que eu precisava de transporte e comida.

Eu dormia na pensão, com muitas mulheres diferentes das quais eu conhecia até então. A maioria de outros estados, trabalhavam como auxiliares de limpeza do banco Bradesco (Cidade de Deus), eram imigrantes do norte e nordeste, sem familiares por perto, assim como eu, sozinhas... Para trabalhar, elas usavam aquelas botas de borracha o dia todo, tinham longos cabelos e no mesmo local, nos dormíamos, elas cozinhavam, tomávamos banhos, era um único cômodo, cerca de oito a dez beliches, o chão era de ardósia e não tinha luz do dia, pois ficava no porão da proprietária da casa, local descente, e de gente humilde, mas era muito frio no teor e na essencia e tinha tantos cheiros,  de tanta coisa presente e diferentes naquele quarto, que não sabia decifrar o que era exatamente... Lembro-me que elas não conversavam muito comigo, pois achavam que eu tinha muitas roupas e também não cozinhava para preparar a minha marmita, não lavava a louça no tanque onde se lavavam as calcinhas... Portanto não entendiam porque eu estava ali! Eu tinha tanto nojo de tomar banho, porque os cabelos delas entupiam o ralo e quando eu ia tomar banho a água começava a subir no meu tornozelo que eu sentia desespero... Eu cortei meu cabelo bem curto, para tomar banhos rápidos e procurava deitar logo... Quantos cheiros... Eu chorava, lembrando que há pouco tempo eu tinha um marido e uma casa e no outro estava ali naquele lugar, eu me culpava e me arrependia dos meus sonhos, das estradas que almejei em trilhar, deveria ter feito outra coisa, não deveria ter ido estudar, não deveria ter andado por este lado, mas eu sempre queria mais, eu não queria mais andar de Variante verde abacate, eu não queria morar mais em casa de fundos, eu não queria mais depender de ninguém, eu queria ter uma família, mas achava que para isso eu precisava do estudo, do dinheiro, do carro, da casa e de tudo que estava tão longe de família...

Não era nada disso...

Aos 25 anos, quando eu já estava em meu apartamento, concluindo minha faculdade, ganhando bem, totalmente livre e independente, soube que tinha um problema de saúde, tratamento possível, como o faço até hoje (um dia falo melhor sobre isso de quando e como, ainda não é o momento).  Depois soube também, que além deste problema eu tinha outros e que teria que tirar meu útero, que jamais poderia ser mãe...  E como alguem que já achava que havia conquistado o mundo eu cai novamente. Entrei no ritmo de pessoas que não se importam com nada e nem com ninguém! Eu não valia nada mesmo! Eu era só mais uma ali no mundão... As pessoas não me notavam e nem me importavam... Nada era nada! Ninguém tinha vez e nem espaço no meu mundo... E foi assim até conhecer o Carlos com quase 30, numa noite em que cheguei mais uma vez bêbada, sem rumo, vazia e sem vida...

(Detalhei sobre isso no post Um coração para ser salvo)




E Deus nisto? Será que Ele me olhava? Eu achava que não... Sabia que Ele existia, mas para os fracos, para eu não! Eu já O tinha visto passando por ai, mas nunca O havia procurado de verdade, porque sempre me considerei uma fortaleza, uma rocha, um trator que passava por cima de tudo e de todos, inabalável eu dizia:

Manda mais! Manda mais! Manda o que Você quiser porque eu agüento firme!
Se Você acha que vou ficar no chão e lhe pedir para ser acolhida, transformada, restaurada... Eu não! Eu não preciso de Você, eu tenho orgulho de devorar tudo e a todos... Pode mandar o que Você quiser, o quanto quiser e como quiser porque eu simplesmente vou passar por cima com meu trator e pendurar meus troféus para Você ver!

Assim eu estudei muito, fiz faculdade, fiz cursos, fiz pós, trabalhava na semana em dois empregos, virei a "workaholic", a fria e calculista do começo desta série de postagens...


Mas Ele, criador sábio e conhecedor das entranhas de seus seres, sabia que nesta luta de mostrar que eu precisava Dele, teve mãe ruim, pai alcoólatra, madastra louca, irmãos drogados, armas, fugas, doenças, dores, lágrimas, solidão, fome, frio, humilhação, fugas, cansaço, falta de dinheiro, falta de paz e fuga fuga fuga e ainda não eram suficientes para que eu abaixasse a guarda e me entregasse. Não! Eu não permitia fraquejar nem no meu estado mais íntimo, nem com Ele... Nem com ninguém! As minhas máscaras eram tão espessas e tão pesadas que nem para ele eu as tirava, eu não me permitia ao menos admitir para eu mesmo que eu estava sofrendo, era algo inadmissível, porque eu havia chegado lá e o fato de dizer que ainda não estava bom, era como reconhecer que eu não havia conquistado nada!

Dá para imaginar o que isso significava para mim?

Precisou muito mais para eu me render... Precisou eu ser mãe de uma menininha de 2975 kg, 49 cm, no dia 10 de março de 2004. Gerada após muitos tratamentos e mais dores, para que eu pudesse provar do amor que não eu nunca havia experimentado, provar do amor de mãe para filha... Que amor era esse que eu tanto desejei, eu não conhecia e agora ele estava ali... Chorando... Pedindo para nunca mais deixá-lo escapar... Precisou eu ter um ser que dependia de mim 24 horas, para que eu pudesse compreender, para sentir tudo o que eu não havia sentido, eu não sabia o que era aquilo e era como se eu pudesse voltar no tempo e me vendo na Pietra, em seus olhos...

(Carlos e Pietra - 10.03.2004  Hospital Pró Matre Paulista - SP)

Foram muitos momentos de felicidade e descobertas, mas, no final de 2007, ela com três anos para quatro anos, começamos, (eu e o Carlos) brigarmos muito e ainda na frente de nossa filha!  Eu me vi novamente naquela mesma cena, porém com os motivos de brigas diferentes, mas eu, no meu lugar minha filha tão desejada, tão querida, tão amada e estava indo tudo no mesmo caminho que eu fui, trilhar as mesmas dores, passar pelas mesmas dificuldades, a faze-la passar por tudo que eu havia passado.. Somente pelo meu orgulho, orgulho esse que me manteve viva até então, mas agora estava me atrapalhando, me impedindo que eu não deixasse seu pai partir...

Mas eu o deixei... E ele foi embora para poupá-la de nossas desavença e eu o deixei ir por orgulho, orgulho de achar que eu, somente eu poderia dar conta da situação, eu sempre estive no comando, porque não continuar...


Mas Deus me resgatou, resgatou-me para que não cometer os mesmos erros, não fazer daquela criança não só uma mulher batalhadora e honrada como sou, mas de coração duro e sem infância como eu era, criada sem o amor e o vínculo dos pais... Resolvi sim, ir atrás do Carlos, ele ficou fora de casa por três meses e pedi que voltasse. Juntos procurarmos e nos rendemos ao amor de Deus, porque eu agora tinha a possibilidade de reverter toda a minha história, de reverter o modelo que se repetia e pode sim construir uma família baseada neste amor!

Hoje percebo Sua presença em nossas vidas, de como tem nos preparado ainda para grandes jornadas, mas com a família unida, fortalecida não só com orgulho e honra, mas com amor! Porque sempre pensamos que devemos amar primeiro quem nos gerou (nossos pais), depois amarmos quem nós escolhemos (nosso companheiro/companheira) e depois a quem geramos (nossos filhos) Mas, Ele me ensinou que mesmo não podendo amar primeiro quem me gerou, posso sim começar escolhendo alguém para amar e deste amor gerar outro amor e até voltar a amar a quem eu fui gerada... Não há seqüência lógica no amor, não há ordem, não tem quem é o começo, ou o meio ou o fim, porque não se tem fim para o amor e sim o desejo dele existir e pronto!

"O verdadeiro amor nunca se desgasta. Quanto mais se dá, mais se tem." (Antoine de Saint-Exupéry)

"O amor é a força mais sutil do mundo." (Mahatma Gandhi)

"Um coração feliz é o resultado inevitável de um coração ardente de amor." (Madre Teresa de Calcutá)

"Para fazer uma obra de arte não basta ter talento, não basta ter força, é preciso também viver um grande amor." (Wolfgang Amadeus Mozart)

"A medida do amor é amar sem medida."(Victor Hugo)

"Amar os outros é a única salvação individual que conheço: ninguém estará perdido se der amor e às vezes receber amor em troca."(Clarice Lispector)

Não vou dizer que é fácil ou que depende de sentimentos, não depende. Depende sim de atitudes! É necessário olhar e dizer que quer isso para a sua vida e segurar com todas as forças, porque há muitas coisas que nos faz pensar que o verdadeiro sentido da vida é estar em ser livre e sozinho no mundo... Mas, fazer algo dar certo exige muito mais que sentimento, exige amor e o amor não pode ser menor que o orgulho, a raiva, o medo, a incerteza, a duvida, a depressão, a tristeza, a alegria, a amizade, a tranqüilidade, o conforto, a feiúra, a beleza, o alto o baixo, o rico ou o pobre, o amor deve ser acima de tudo que passamos, porque ele nos faz muita falta em todos os momentos de nossa vida.

Só podemos ser amados e amar quando reconhecemos que precisamos do amor de Deus em nossa vida...

Minha jornada espiritual só começou quando me vi em minha filha e foi neste amor que pude perceber que desta vez eu não estava mais só e que não bastava só ser forte e honrada, eu precisava mais que isso, eu precisa de Deus para continuá-la amando e sendo amada por ela e isso eu não poderia perder!


Pietra linda!

Hoje além do Carlos, da Pietra, temos a Brisa e precisamos continuar com esse amor...

Quanto a minha mãe... Ela conviveu com a Pietra por uns quatro anos, hoje ela esta com seis, mas felizmente não dei a ela uma segunda chance para magoar a Pietra. A Brisa ela ainda não conheceu... Ainda estou trabalhando meu coração, pedindo forças, para que um dia eu possa novamente ensiná-la a me amar e aos meus, assim como minhas filhas me ensinaram com mais de 30 anos que é realmente sentir o verdadeiro sentido do amor e o quanto precisamos de Deus para a cada dia renová-lo...

Não é que o amor cresce somente através de um marido e filhos, porém essa é minha vida e foi o que me fez falta e naquilo que não tive que descobri que podia amar...

Mas cada um pode buscar o amor, através do amor de Deus, onde se sente realmente amado, isso com o partilhar, não só através do casamento ou filhos, Há como encontrar o amor de muitas maneiras e com pessoas que nem sempre são frutos de relacionamentos conjugais.

Este depoimento foi feito porque domingo passado, me vi na tela (video abaixo - aparecemos a partir de 1:10s) e ali diante de centenas de pessoas, senti dentro de meu peito, sendo convocada diretamente para falar deste amor, convocada a partilhar desta experiência com vocês e espero sinceramente que possa ter gerado uma vontade de sentir um pouco deste amor...

Mostrar que após tantos anos, mesmo não me sentindo amada, não sendo gerada e nem criada em um ambiente de amor e após ter passado por tantas dificuldades posso aqui dizer que é possível, que fiz gols sim, porém deixo meu técnico lá em cima continuar atuando para que eu possa vencer nesta Copa da Vida e hoje jamais só, mas com um grande time!
Video mostrado no dia 20.06.10 na Chacara Primavera)

Desejo com todo o meu amor, que Ele também te convoque!

quinta-feira

Minha espiritualidade II

Continuação do post anterior



Passaram-se alguns meses e o ex da minha mãe aparecer, apartamento montado, as mágoas superadas e porque não, retomar? O problema é que minha mãe quando namora, não consegue dividir, ela se dá tanto na relação que se esquece dos filhos, sempre foi assim, ela tem muita dificuldade em partilhar seu amor e sua dedicação, então tudo voltava ao normal, sim o sonho se desfazia: "Andrea minha filha, você não tem nenhuma amiga assim para ir dormir fora?" "Eu não mãe, ainda não fiz amizades, ainda.."- "Nossa, você precisa ser mais comunicativa, não sai de casa, só vive enfurnada aqui dentro... Precisa namorar... Sair..." - É?? Tirou-me do meu mundo, do meu emprego, acabou com minha rescisão, meu namoro e eu tinha que ser expandida? Ah sim...E durante a semana, "Precisamos economizar heim!" - Muitas privações durante a semana, para que pudéssemos viver a família do comercial da margarina nos finais de semana, quando o namorado estava presente, em sua suíte presidencial, com direito a Balantimes 12 anos, refeições glamorosas e o ninho de amor limpíssimo: Lindo, o cenário perfeito para que ela pudesse sempre mostrar sua superioridade, que não estava precisando dele para nada e eu minha infelicidade...

Perguntando-me o porquê tudo se repetia, como um filme que eu já havia visto muitas e muitas vezes...

Um dia, estava assistindo filme com eles na sala e larguei a manta em cima do sofá, minha mãe falou "Andrea leva a manta para seu quarto, não quero bagunça!" - Eu com muito sono... Fui para o quarto e a ignorei. Ele ficou muito bravo com meu desrespeito, como eu, a filha tratada a pão de ló, deixava a manta para a coitada da mãe que trabalhava fora o dia todo para me sustentar, deixará a manta ali e ia dormir com descaso? Falou-me "Você não ouviu sua mãe não?? Eu, respondi, pensando: (Ah tá agora ele vai querer também mandar em mim, já não basta os pingos de xixi dele no vaso que tenho que limpar, ainda vou ter que ouvir), ele então falou: "Venha aqui agora pegar a manta! Obedeça a sua mãe!"

Levantei e fui lá e despejei todos os engasgos... Disse tudo: Que eu comia ovo a semana toda para ele tomar seu Balantimes 12 anos, que eu que limpava a casa, suas sujeiras, que ela ficou em Campinas por causa dele sem recurso para nada e qual eu que tive que ajudá-la... Porque de uma hora para outro eu virei um entulho, uma empata, um peso, como sempre foi percebendo que fui enganada de novo!

Ele ficou muito sem graça, ele não esperava! Minha mãe ficou com vontade de me esganar só com o seu olhar fulminante, lógico desmanchei seu cenário, sua farsa!

Nunca fui uma filha quieta ou obediente, era respondona, desobediente, independente, mas fiel e companheira, hoje vejo que eu tinha muito pouco porque havia recebido o mínimo, o menor, o pouco...Mas ainda não sabia dentro de mim transformar aquele pouco em muito, hoje eu sei que é possível! E nas minha construção de um ser que vivia sendo demolido, conheci a possibilidade de fazer bons alicerces, tijolos contruidos não só a dois....



Comecei namorar com meu ex marido, ele tinha uma locadora de vídeos no bairro onde morava com minha mãe em Osasco, bem em frente onde eu descia do ônibus quando eu voltava da escola (estava terminando o terceiro colegial). Ele é alto, era muito bonito, simpático e extremamente educado. Alguém para me salvar o coração? Voltava da escola, passava na locadora e ficava ali à tarde, conversando com ele, achando que era impossível um cara daqueles se interessar por uma moça com roupas tão velhas como as minhas... Lembro-me um dia que ele me disse que me reconhecia pelos tênis, nos degraus do ônibus, tênis com o solado abrindo na frente... Rsrsrs... Isso porque minha mãe fazia eu buscar seus "taier" quinzenalmente na costureira do bairro, sempre muito elegante, eu realmente não parecia sua filha...

Foi tudo muito rápido, começamos a namorar e logo nos tornamos inseparáveis... Minha mãe lógico adorou a possibilidade de me ver longe dali nos finais de semana e eu uma maneira de fugir do teatro de mãe carinhosa e zelosa nos finais de semana... Perfeito!

A mãe dele não gostou de mim, claro, eu pobre e ele não rico, mas de família bem melhor que a minha, comerciantes, tinham lotérica, locadora, lava rápido, banca de jornal e revistas, moravam em um bairro nobre, casa bem grande e eu a descuidada pela mãe... Pela vida...

Como contar para a família de seu namorado que seu pai quando bebe dá tiros pela casa para se divertir e se tem que ir para debaixo da cama ou pular as janelas porque o pai ouvindo Pavarotti ou Frank Sinatra, enlouquecido com a bebida, fazia o teto da casa de minha avó, construída a no mínimo 40 anos, de peneira só porque achava divertido... Para simplesmente rir! Ou dizer que ele tinha muitas armas diferentes, baionetas e facões de Samurai, apaixonado por todo tipo de arma, brincava, insano e embriagado de furar as coisas... Rasgar travesseiros e colchões... Cortar objetos para assim testar a exatidão das lâminas de sua coleção...

E era assim que se vivia com meu pai quando minha mãe resolvia compartilhar a guarda com ele...

Ou dizer que se prefere dormir lá, não para transar com o filho dela, engravidar para fugir de casa... Não isso ia demorar muito... Queria ficar lá para fugir naquele dia mesmo, naquela hora, na hora da janta, do café da manhã... Tinha que ser para o dia... Sempre para o dia...

Passei a vida fugindo das pessoas e de seus teatros... Dos seus shows! Do seu melhor e do seu pior, fugia do caos e das situações de plena felicidade, fugia da falta do amor, fugia dos excessos...

Mesmo porque ninguém acha isso possível... Ou era exagero meu, ou eu era um ser revolto, porque quando eu mencionava algum fato da minha vida, as pessoas simplesmente não acreditavam! Eu via isso em seus olhos, porque as pessoas acham que sempre estamos exagerando, inventando, criando artifícios para sermos aceitos e amados, mas tudo que relatei e relato agora são fatos tão reais que muitas coisas eu simplesmente esqueci... Às vezes o Carlos me pergunta sobre fatos no Brasil e no mundo, ou desenhos e musicas de nossa época e muitas coisas simplesmente passaram e eu não vi, eu não vivi, porque eu estava mergulhada nas minhas questões, nas minhas angústias, fugindo de fatos e lugares e quando a gente corre, nós não olhamos para o lado, não admiramos as paisagens, não vemos os detalhes...

As essências e os perfumes...

Era véspera de Natal, eu ansiosa para passar com ele, sabe aquele começo de namoro, a paixão, me lembro que quando eu ia à locadora e ele pegava na minha mão, como pretexto para falar alguma coisa, meu coração batia tão rápido que eu poderia sentir em minha blusa... Eu ficava contando os minutos na escola para que na volta, próximo ao horário do almoço eu pudesse parar ali e ficar falando dos filmes, de ver seu rosto, seu sorriso, ele tinha tanta alegria, tanta vida, que eu queria um pouco para mim! Sua família, com pai e mãe em casa, irmãos, tudo isso era tão atraente, tão importante...

Meu irmão mais velho, um dia numa praia em Vitória, conheceu sua primeira namorada, moça simples, do interior do Rio, família grande, resolveu casar em menos de um ano... Vivíamos em busca de um pouco de afeto, um pouco de amor, um pouco de gente normal e quando achávamos não perdíamos tempo... Conheceu-a em julho e marcou o casamento para dezembro. Ele se casou na cidade dela, a 16 horas de SP, Itaperuna, interior do Rio, divisa com o Espírito Santo, no dia 27 de dezembro, minha mãe ordenou: "Você vai passar o Natal conosco, lá em Itaperuna, e ficaremos na casa da noiva dele até o dia do casamento!" Falei nãooooo! Não posso! O namorado, o Natal com ele...Estou tentando me aproximar de sua família! Não posso! - Ela não deu chance- Se você não for, te ponho na rua! 

Minha mãe sempre resolveu as coisas conosco assim: Desobediência doméstica: Apanhava ou ficava de castigo (também já chegamos a ir para o chuveiro gelado para pararmos de brigar). Tínhamos uma tabela na casa dela, ela mandava emplasticar para não rasgarmos, eram as obrigações de domingo a domingo, roupa, louças, banheiro, etc., Ela com justiça, dividia todas as tarefas, tarefa cumprida, escolhia um passeio no final de semana, um dos três não cumprisse algum item, nenhum dos três saiam. Outros momentos o castigo era morar com meu pai ou com algum parente que nos quisesse! E cumpria isso a risca... Depois acho que se arrependia e ia nos buscar... Depois fazia tudo de novo e de novo e de novo... Isso desde que tínhamos 8, 10 anos...

Chegamos a Itaperuna, Pequena... Muito quente e feia! Iríamos dormir com pessoas que jamais vi antes, minha mãe empolgada por meu irmão relatar que a família da moça tinha um grande comércio na cidade, um grande casarão de três andares. Muito empolgada, porém  preocupada com a possibilidade do casamento não acontecer, pelo fato de que a família dela soubesse que ele vinha de uma família de pais separados. Eles mentiram, sim eles disseram que tinham uma família perfeita! O namorado da minha mãe era o pai e vivíamos todos em perfeita harmonia!
Ótimo se meu pai não aparecesse com sua mulher espetaculosa , com minha avó e irmão mais novo, no dia do casamento logo pela manhã...

Claro que não tinha lugar para nós na casa, Claro que se estivesse minha mãe não ia ficar depois que ela viu onde e como, Claro que ela se arrependeu até a morte de ter ido antes do Natal lá, Claro que eu fiquei muito brava com toda àquela situação... O que eu estava afazendo lá? Poderia ir sim ao dia do casamento, mas todos àqueles dias só para que ela mantivesse uma mentira, as aparências?

Bem fomos para o único hotel da cidade, não tinha T.V, apenas um ventilador velho, ruas de terra (inclusive da casa da noiva), muito pó, somente uma pracinha identificando o centro, calor de 200 graus, porque além de ser dezembro a cidade fica entre dois morros e não circulava ar... Para se ter uma idéia do calor, piquei 18 kilos de pimentão para o vinagrete para a festa do casamento e azedou tudo, da tarde para a noite... Fora que azedou os frangos que o pai da noiva havia matado de madrugada, só não azedou o porco, morto pela manhã, porque já o colocaram para assar e assim ficou até na hora da cidade inteira, que foi convidada para a festa o atacar!

Eu nem vi os noivos na festa. Tinha tanta, mas tanta gente que era impossível achar alguém lá...


Antes da festa aquele silencio mórbido porque o meu pai chegou com sua companheira e logo a família soube que se tratava de uma família com mais podres do que os frangos assassinados pela manhã... Enfim, meu pai com 50 anos, acabará de ter tido duas lindas gêmeas e quando ele chegou e após alguns momentos de revelações e estranhamento... A coisa dissipou e eu fui muito curiosa saber das meninas, queria muito ver fotos, pois elas tinham ficado com a avó materna em Campinas, devido à longa distancia para assistir ao casamento...

Minha mãe ficou brava pelo fato de eu ter ficado durante o dia da festa e na festa com o meu pai e a mulher dele, não foi nada proposital e nem dava preferência a ele, porém o fato dele ter tido duas lindas meninas, me deixou curiosa, encantada, próxima deles pelo nascimento, é óbvio... Mas ela não aceitou ficar só, diante de tudo que havia acontecido, não gostou dos meus movimentos, frente à nova família do meu irmão, sentiu-se humilhada e só perante todos!

Na verdade já estava envergonhada pela mentira, por ter que pedir para o namorado não aparecer, pois meu pai mesmo com filhas recém nascidas iria sim à festa, envergonhada de ter vendido para aquele povo simples, humilde, mas de coração puro, a farsa da família perfeita, porque meu irmão não conseguia admitir seu pai e sua madrasta alcoólatras e sua mãe com outro homem... Nestas cidades ainda havia muito preconceito com as "largadas do marido", como muitos dizem...

Na festa muita confusão, muita gente, chegou no meio do barulho e no meu ouvido disse: "Você se vira para ir para SP, estou indo embora agora!" - E simplesmente saiu!

Lógico que eu não acreditei que ela iria ir embora da cidade, me largando no meio da festa, numa cidade que ficava 16 horas de SP, sem dinheiro, meu pai com o carro cheio, pois além da minha avó, meu irmão mais novo estava com ele... Minha avó paterna ainda foi atrás dela na festa e ela muito grossa, falou para minha nona cuidar da vida dela!

Enganei-me! Ela foi embora à mesma hora, foi no hotel, fechou a conta, deixou minha mala pronta na recepção do hotel e partiu sem me deixar nada...

Fomos embora pela manhã, apertados, minha avó sufocando na parte de trás, viagem tensa e cansativa, chegamos em Campinas pela manhã e na mesma hora fui à rodoviária peguei o ônibus para Osasco... Me arrastando fui...

Cheguei ao apartamento na parte da tarde, antes havia passado na locadora, fui ver o namorado, abraça-lo, contar o que havia acontecido, mas logo fui para casa, precisava de um banho e descanso... Muita viagem... Muito pó e muito calor! Estava exausta por tudo, no físico e no mental... Não via a hora de tomar banho no meu banheiro, sentir o cheiro do meu travesseiro, ah descansar de tudo aquilo!

Quando fui abrir a porta, percebi que estava trancada, apertei a campainha e nada... Ouvi barulho da máquina de lavar roupas, toquei de novo... Nada, pensei: "Será que ela dormiu??" "Ou foi tomar banho??" Esperei alguns minutos, toquei a campainha e nada...

Em frente ao nosso apartamento tínhamos uma vizinha, não gostava muito dela, tinha dois filhos hiperativos e por conta disso, dopava-os com antialérgico, eles dormiam o dia todo e ela mentia para o marido que as crianças eram super alérgicas... Horrível aquela mulher! Mas resolvi tocar a campainha dela para ver se ela sabia de alguma coisa...

Ela me disse que minha mãe havia chegado sim que tinha ouvido barulho dela saindo... Pediu que eu entrasse e contasse sobre o vestido da noiva... Essas curiosidades sobre casamento, o que tinha para comer, etc.

Fiquei lá uns dez minutos, pudemos ouvir o barulho da minha mãe chegando... Terminei o café que ela havia passado só para eu tomar e contar... Peguei minha mala e fui... Quando tentei abrir, fechada apenas com a corrente, falei; "Mãe sou eu, pode abrir... - Se soubesse o que iria acontecer, não teria entrado!

Ela havia separado uma cinta, jogado minhas roupas num saco de lixo preto e quando entrei levei uma surra de cinta, na qual marcou meu rosto, minhas pernas e meus braços... Não derrubei uma só lágrima, não fiz um só movimento, deixei que ela descarregasse toda a sua ira, sua impotência frente o fracasso de uma farsa mal sucedida, uma suposta humilhação, deixei ela me marcar o quanto pode e quis, porque seria a ultima vez que tocaria em mim... Jurei a cada cintada que recebia que nunca mais veria aquela mulher amarga, infeliz, mentirosa... Como senti raiva aquele dia! Assim que ela terminou, pegou o saco com minhas roupas me entregou e disse para eu ir embora para a casa do meu pai, pois com ela eu não moraria mais... Sim, ela encontrou a desculpa perfeita pra colocar aquele móvel que não servia mais na rua! Eu tinha 18 anos e fui jogada na rua de novo!

Ela sempre colocava nossas roupas em sacos de lixo preto, grandes e reforçados... Junto com as roupas, também as lembranças, os desenhos, as cartinhas , os presentinhos escolares de Dia da Mães... Sempre fomos jogados com todas as nossas partes... Sempre!
O que fazer nesta hora? Eu sem emprego, sem dinheiro nem para voltar para Campinas e sendo essa opção voltaria as alucinações do meu pai com minha madrasta, ao sofrimento de minha avó assistindo tudo isso de camarote, meu irmão se drogando com os amigos... Eu não queria mais! Eu já tinha pulado desta página, eu já tinha conseguido ir mais além, eu já havia feito esta conquista, já tinha este troféu na minha mão, como poderia recomeçar aquela partida de novo! Eu não podia, por orgulho, por fraqueza, sei lá, mas não podia, nãooooooooooooooo

Fui até a locadora, de novo, marcada, chorando com o saco preto nas mãos... Ele me abraçou e por muito tempo chorei atrás do balcão, nos fundos...onde ninguém pudesse me ver, escondida, num buraco de tristeza e vergonha... Vergonha das marcas... Tristeza da vida, cansada de tudo, cansada de mim...

O amor nos faz somente cegos quando ele nos toma, mas nos torna cruéis, desprovidos de alma, na falta dele. Precisamos do amor para que possamos não só viver, mas que possamos com os nossos frutos alimentá-los, porque a falta de amor pode ser uma doença congênita, mas há remédio, há cura, há qualquer momento que se deseje amar alguém, procure a Deus, pois ele nos restabelecerá e nos alimentará a cada dia para que nossos simples sentimentos transformem-se em atitudes de amor... Eu precisava de atitudes de amor comigo... Eu precisava de atitude de amor!



Por favor alguém me ajude!
(continua)

terça-feira

Minha espiritualidade...

Antes de falar sobre o tema deste post, eu gostaria de relatar mais sobre minha vida, não só como testemunha de minha opção religiosa ou credo e sim para que as pessoas possam entender essa escolha ou como se deu essa busca, diante de uma vida um tanto quanto conturbada...

Meu companheiro, sempre me fala, "Andrea se eu tivesse passado por metade do que você já passou, eu seria uma pessoa insuportável de tamanho orgulho que ia sentir!" - Mas não me sinto assim em momento algum! Pois sei que muitas pessoas têm suas dificuldades e que cada um sabe o quanto cada uma pesa, por isso sempre digo a ele que "Estamos em obra!", porque ser humano que é humano de verdade, está sempre em obra para melhorar!


 Não existem pessoas prontas, acabadas! Você pode viver cem anos e mesmo assim estará em obras!

O relato é bem extenso, peço desculpas para os que tem pressa,  porque eu sou uma mulher de detalhes, não os desprezo, pois acredito que em certas situações ou para certas pessoas, uma vírgula, uma letra ou uma palavra, torna-se a grande diferença para que ela se identifique, se encontre e com intimidade nas linhas, permeando aqui e ali vai se achando, vai sentindo coragem para não desistir, porque eu nunca desisti de nada! Não só de conquistas materiais ou profissionais, mas nunca desisti do amor, não como sentimento, mas o amor de ações e de transformações em nossas vidas!

Peço  que leiam esses textos de maneira calma e que possam sentir em cada símbolo, cada caractere, o mais profundo do meu ser, sem a intenção de que tenham sentimento de compaixão (dó) e sim sentimento de força, vontade e determinação para quem seja, possa um dia usa-lo como um modelo, como tantos de que há adversidade vividas e que é possível sim ser superadas...

Gostaria também de dizer que este texto complementa alguns já ditos, como:
(No qual foquei mais no assunto em si, mas nem tanto, detalhando o cenário, o antes e o depois, o porquê das passagens, das escolhas e dos acontecimentos...)

Também lamento que na maioria da vezes meus textos são mais dramáticos do que divertidos, porém são verdadeiros e com a intenção sempre do compartilhar para o crescer.

...

Sabe, essa semana que passou não foi fácil, mas duas coisas me deixaram muito feliz, a certeza de há o justo para os soberbos, através da justiça de Deus, pois o mundo não é estático, a natureza se move constantemente e isso nos deixa claro que altos e baixos são só uma questão de tempo... É a física dos tempos, não há como escapar dos segundos, minutos, horas e dias... O tempo corre e juntos vamos sentindo os seus efeitos, a sua justiça!

Outra coisa foi o carinho recebido no blog, mesmo quando o assunto estava chato... Realmente às vezes ficamos chatos com as formas, as coisas, as regras, as pessoas, chato com um mundo diferente do que a gente pensa ou queria para nós... Mais chato ainda é não poder dizer quando achamos isso chato ou não ser aceito por isso e o pior para mim... Sentir-se só na chatice...

Mas eu não me senti só, muitos mesmo não compartilhando dos nossos sentimentos ou ações, ainda que vivendo em outros mundos e situações, deixam uma palavra, um se importar, um beijão que seja, isso realmente torna a coisa menos amarga...



Teve uma época que eu que não gostava de gente e chegava a verbalizar isso, para quem quisesse ouvir: "Ah detesto ouvir as pessoas!" "Se tiver um cachorro e um homem acidentado, com certeza eu salvo o cachorro!" "Não tenho paciência com seus melodramas" "Ai que saco fulano ou beltrano, só tem problemas essa pessoa? A vida dela não dá nada certo?" "Que saco!", "Não tenho paciencia para esse blá blá blá" .

Claro eu uma "workaholic", criada no mundão, sem laços ou afinidades, vida na engrenagem (muitas vezes sem lubrificação), achava que relacionamento bom, era relacionamento com papéis... Ah, os papéis e os números, minhas prioridades, minha paixão, meu ganha pão e minha razão de viver, pessoas no meu mundo não tinham vez, não serviam para nada!

Fria e calculista, desumana, radical, esquisita, e pode continuar... Mas não posso negar que era assim! Não havia uma pessoa com um coração aflito que me convencia o suficiente para eu trocar o trabalho por ela ou pelos seus problemas, não tinha tempo, não tinha paciência, eu não tinha nada para dar para ela, dentro do meu peito só a racionalidade, a exatidão dos gestos e dos movimentos, conversas sim, mas com resultados, com saldos, com números, positivos ou negativos... Eu sequer permitia as grandes amizades... Ah que perigosa, entrar no meu universo, invadir meu território com suas perguntas ou sua história, jamais! Eu sequer admitia o prefácio... Nem um passo, fica ai e eu aqui, porque assim é mais fácil, não misture as coisas, fica uma relação limpa, faxinada, sem restos de experiências, resquícios de verdades, jargões, sentimentalismo inadequado, cafona e fora de propósito...

Depois soube que tudo isso era um casco bem grosso, um escudo para eu me livrar das pessoas e de eu mesma, eu não as ouvia, elas também não e ficava tudo certo entre nós, sem escambo, sem compromisso, para que complicar a vida?

Família então, eu nunca tive, porém ao invés de procurar meios de participar da família alheia, como faço hoje (já no gatilho para outro post), eu ficava criticando! Eu heim, aquela bagunça de pessoas, crianças, animais, pessoas e seus hábitos, suas histórias, seus defeitos, seus cheiros... Nem morta!

Eu olhava cada detalhe, cada objeto e sentia repulsa das memórias, tinha raiva das fotos, das lembranças, das histórias, dos choros e das gargalhadas...

E quando alguém vinha me beijar ou abraçar?  Meu coração entrara em uma aceleração, descompassada, desconjurado, aflito por tanta aproximação... Sabe quando você atravessa a rua para que a pessoa não te afague, não te pegue, não te sinta... Quantas fugas, quantas rotas alternadas dentro e fora de mim...

Quando me casei pela primeira vez, véu e grinalda, linda e maravilhosa, já tinha deixado um caminhão de fatos tristes para trás, um pai que não trabalhava nunca, nos finais de semana bebia e destruía a casa e as pessoas do seu lado com sua violência, uma madrasta parceira na bebida e nas pancadas, uma mãe que trocava a gente por qualquer namorado, vivíamos leiloados na família e fora dela, para tanto, nos fez prendados desde cedo, os três sabem passar, cozinhar, limpar e costurar desde os sete anos, responsáveis e treinados para pertencerem a qualquer rotina, a qualquer família, isso no que diz respeito a trabalho, porque sentimento estávamos sempre secos, sedentos, pobres, porque tudo era para o dia, o que tinha para o dia, que lugar, que pessoas e que hábitos, era as nossas surpresas, destinos incertos, pessoas incertas...



Lembro-me uma vez, fiquei na casa da secretária da minha mãe em Mogi Guaçu, morando, porque assim não atrapalhava as viagens da minha mãe a trabalho e nem a namoro, porém eu precisava pagar a diária, sim sempre aprendi que havia uma troca, nas relações, então, era só cozinhar e cuidar dos dois filhos pequenos dela, enquanto ela secretariava minha mãe em uma agencia de empregos...
Eu tinha 11, 12 anos, mas antes disso já havia morado com tanta gente que hoje perdi realmente a noção de tempo e espaço... Nomes e rostos, nem pensar, a lembrança que ficou foi sempre o que eu sentia e o que eu vivia.

Tudo bem que eu poderia aqui relatar que as convivências foram agradáveis, que eu assim me tornei por isso uma pessoa expandida, conhecendo vários lugares, várias cidades, culturas, hábitos, tal como um intercâmbio, citando seus inúmeros benefícios. Mas de fato não foram assim, não porque quero fazer de minha vida um drama, mesmo porque nunca permiti que fosse, sou orgulhosa demais para admitir que coisas e pessoas me impeçam de caminhar, jamais desisti de nada do que foquei, do que quis, do que almejei, apenas não posso criar um lado bom, porque simplesmente não tinha! Não há lugar no mundo bom se não nos sentirmos amados, queridos, desejados! O amor ele é algo tão forte e tão vital,  que uma pessoa percebe desde quando é gerada até sua velhice e morte... (Uns até acreditam que pós também) Então o fato é: Quando não se tem amor, não se tem nada!

Hoje a cada manhã quando acordo e vou pegar a Brisa no berço para poder alimenta-la vejo esse amor refletido nos seus olhinhos, na sua boca aberta e banguela, nos seus bracinhos e pernas agitados, pedindo para abraça-la, ama-la incondicionalmente como se mais nada fosse preciso, como se segurar em minha mão com força disesse para não deixa-la...


Quando me cansei desta coisa de ser uma mala, jogada para tudo que é lado, muitas escolas, colegas, endereços, rotinas, etc. Resolvi trabalhar e claro, continuar estudando, isso por volta dos 15 anos e aos 16 consegui finalmente o suficiente para morar sozinha.

Minha mãe sempre sumia e aparecia como uma fada, sabe aquelas que criança pede para aparecer, sorrindo, vestida com aqueles belos vestidos, cheirosa, feliz, pronta, de abraços abertos e sorriso brilhante, com ares de "agora eu juro que te quero", "acho que agora eu consigo te amar" "agora eu to sozinha, não estou namorando e você realmente vai pertencer a alguém" eu ia, ia todas as vezes que ela aparecia, eu ia com coragem e a certeza como fora a primeira vez... Largava o que fosse... Quem fosse e ia... Acho que não existia pessoa que conseguia me enganar mais que a minha mãe (até hoje fujo dela se não ela continuará me enganando e minhas filhas também), eu na minha sede, no meu encantamento por ela, acreditada em tudo que ela sempre me falava, tudo, me iludia de corpo e alma e claro, me decepcionava...

Lembro-me de um dia ter falado para ela: Mãe eu sinto tanto falta do seu carinho, do seu toque, de um abraço de um beijo... "Ela me respondeu: Essas coisas são namorados que dão, não mãe! Ah...tá bom... Então vamos lá, em busca dos carinhos não é?




Bem, eu estava com 16, 17 anos ela veio de novo, desta vez, não a fada, mas a mulher, arrebentada, triste pelo rompimento do relacionamento, precisando da filha, do apoio, da muleta! Nós em Campinas, porém ela procurando trabalho em São Paulo, fez-me uma proposta (e para propostas ela sempre foi imbatível): "Filha eu larguei do fulano, agora é só nos duas, você vai ter vida nova, um quarto só para você, vou montar um quarto seu! Vamos com a mamãe!" Eu há quase dois anos namorando a mesma pessoa, trabalhando direitinho no meu segundo emprego, estudando, morando num quartinho ali no Guanabara, fundos da casa de uma senhora e ela aparece...Então ela me conveceu: "Ah mãe, eu to bem aqui!" - "Bem? Como assim bem?" - "Neste quartinho fuleiro, tem um monte de gatos neste quintal, essa senhora esquisita..." "Não é lugar para você!" "Você merece um lar, uma coisa melhor, não pode ficar ai jogada..."- Eu realmente ganhava uma mereca, pagava o quarto, no inicio até cozinhava no trabalho, mas depois o chefe não deixou mais por causa do cheiro no escritório, comprava marmitex, estudava a noite, condução, roupa, enfim, era tudo muito apertado. "Falei para ela, "Ah tudo bem... “Quando você for para SP me avise, que eu vejo...” - Nunca consegui dizer NÃO para minha mãe, eu não sei o que ela tinha, eu sabia que era mentira, mas ela sempre me enganava,enganava,enganava, porque no fundo eu sempre acreditei que é possível a pessoas melhorar ou deixar de ser fria, ruim... Que parasse de descartar os filhos como móveis, que atrapalham a sala bonita, aquele móvel que a gente bate a canela, que é pesado, ou que não combina!

Ai passou algumas semanas, um domingo ela chega lá, bate palmas no portãozinho do corredor que dava acesso ao meu canto e me chama: "Filha arrumei emprego em uma multinacional em SP, próximo à Osasco, na Rod. Raposo Tavares, vou ser gerente de vendas, vou ganhar bem, vou alugar um apartamento de dois quartos, só para nós duas, você vai ver que bom que vai ser...", (meus irmãos nesta época estavam com meu pai, não estudavam e aprendiam rapidamente sobre bebidas, armas e drogas). Muito empolgada, foi me falando com aquele entusiasmo... Que de novo eu acreditei! Ela completou: "Só que tem uma coisa, eu to sem grana nenhuma, não tenho dinheiro para pagar o ultimo aluguel e a mudança, porque eu vou precisar ficar em SP no treinamento e preciso comprar roupas, levar dinheiro para o hotel e taxi, pois eu falei que já estava de mudança, se não eu perdia a vaga, então eu preciso que você me ajude, pois estarei indo no começo da semana, se não eu perco a vaga..." - Bem, já sabem, fiz um acordo, com a minha rescisão, paguei o aluguel, ou multa, não me lembro direito, o caminhão da mudança, organizei as coisas, pois ela foi para SP e realmente ficou em treinamento, encaixotei os ultimos objetos em sua casa... Enquanto ela alugava um imóvel em Osasco, próximo ao novo trabalho!

Falei para o meu namorado que iríamos nos ver nos finais de semana, que SP era pertinho e tal, mas rapidamente o namoro foi pro brejo, porque nem ele e nem eu tinha grana o suficiente para ficar indo de cá para lá e de lá cá e namoro que dá certo é namoro que se convive, se não há convivência, não há relacionamento...

(Continua...)