Quando eu tinha o canal A&E na minha rede de canais disponíveis, um dos programas que eu mais gostava de assistir era o Intervention.
É um programa que mostra casos de pessoas que estão viciadas em alguma (s) droga(s), bebida(s), etc. ou que tem comportamentos (obsessivos compulsivos, transtornos), no qual, lhe tragam crises pessoais e isso lhe distancia dos seus amigos e entes queridos. No programa, primeiro, relatam e mostram como a pessoa vive, com a participação da mesma (acho que falam para a pessoa que é um documentário) e assim ela vai tendo sua rotina, consumindo o que costuma consumir e na mesma freqüência... Tendo suas crises, pré e pós, isso tudo na frente das câmeras, situações de comportamento em geral frente à vida e às pessoas, tudo filmado e narrado...
O desfecho sempre é uma grande surpresa, visto que não depende da intervenção em si, e sim da pessoa aceitar a doença e querer se tratar. Há sempre um interventor, que supostamente é o narrador e no final promove uma reunião, convidando além do protagonista, seus familiares e amigos queridos (geralmente pessoas que mais convive) e nesta reunião, cada qual traz um relato, do que cada um sente por esta pessoa, o que ela significa em suas vidas, etc. Narrando, como antes tínham uma relação afetuosa, o seu passado e hoje como se sentem em relação ao seu declínio, por conta do que está usando ou fazendo. É uma parte bem comovente e também um desabafo, pois neste momento, essas pessoas dizem que aquele dia, será o último de convivência (por orientação do programa), caso a pessoa não aceite o tratamento proposto (geralmente é uma clínica distante de casa). Diz que vai abandoná-lo de uma vez... Enfim, é uma forma de mostrar o quanto a pessoa é importante e que precisa salvar-se de alguma forma, e aí é com ela...
Às vezes, o "sujeito intervindo" aceita o tratamento e no final do programa temos uma boa notícia, que faz "x" tempos que não está mais fazendo aquilo , ou não, às vezes infelizmente a pessoa depois de pouquíssimo tentar, larga a clínica e volta a usar drogas ou continuar tendo os tocs, as paranóias e se nega a se ajudar, voltando a ficar do mesmo jeito que no começo do programa, largada, na rua, ou em abrigos...
Eu gosto deste programa, por alguns motivos, um é que eu acredito que devemos ter esperança de cura, em relação a qualquer tipo de enfermidade e acho que muitas vezes, famílias ficam desesperadas e não sabem mais o que fazer, são casos muito difíceis, mas tão comuns hoje em dia. Acredito que a abordagem do programa auxilia na identificação do problema, que hoje, aqui no Brasil, sem dúvida é de saúde pública, e não problemas de ordem criminal ou ilícita, e que, infelizmente há em cada família, pelo menos um caso de alguém que passa ou passou por isso...
Outra coisa que eu gosto, que não só via neste programa mais em outros: Eu sempre gostei de entender a mente humana, principalmente pessoas perdidas e desequilibradas. Sempre gostei de ler e assistir sobre pessoas que passam por transtornos ou que necessitam, de burlar sua mente com algo artificial, (drogas sintéticas ou não, bebidas e afins) para poder seguir sua vida e como isso tudo é de fato para si e para os que o rodeiam...
Acredito que a mente humana é algo tão poderoso, tanto para o bem quanto para o mal, que ler ou assistir programas, filmes ou documentários sobre estas artimanhas e situações onde ela é moldada, alterada ou transformada pelo próprio homem, no mínimo me intriga. Essa necessidade absurdamente forte de fugir de sí mesmo, me deixa com vontade de aproximar, ver, sentir e tentar entender...
Também leio sempre sobre pessoas com traços psicopatas, porque sempre tenho a curiosidade de entender o que levou aquela pessoa a chegar àquele ponto, o que faz um ser humano fazer coisas tão absurdas e atrozes e na sua mente, entender que aquilo é um ato normal, de salvação ou de amor. Como vivia, qual era o cenário, as pessoas como intervieram em sua vida de forma a criar ou não o mostro que ali se mostra. Como alguém absolutamente normal, vivendo entre nós, como se nada estivesse acontecendo ou prestes a acontecer...
São os mistérios de nossa mente e de fato, como sentimos. Os poetas que me desculpem, mas os sentimentos estão na mente e não no coração. A mente nos produz sentimentos e nos orienta para tudo, ela entrelaça presente e futuro, aromas a pessoas, musicas a momentos e épocas vividas e nada isso tem haver com o coração, mas com a mente e seu emaranhado de neurônios e informações. Se a mente não vai bem, nenhum órgão por menos romântico que isso possa parecer, vai funcionar adequadamente. Como é possível amar e ser amado com a mente insana ou dependendo quimicamente de algo para acordar ou repousar...
Voltando a intervenção, eu não participei do programa, mas resolvi que eu precisava de uma intervenção. Ao contrário do que eu queria, pois sempre gostei de sentir as coisas como elas são, até mesmo para contar depois cada dor e cada delícia de cada momento, sem nenhuma química interferindo nas minhas vivências ou ponto de vista. Apenas, queria a normalidade dos fatos, sem intervenções de nada químico ou irreal. Acredito que a pior lembrança é de alguém que bebeu demais, é tenta recordar os diálogos, os cheiros, os gostos e as sensações que o corpo teve e simplesmente nada, não consegue... Há somente um grande apagão entre o antes e o agora, o caminho percorrido se foi no meio do gelo e do som... A memória agora pesa e dói, e a cabeça lateja e lateja como um eco de uma caixa vazia e perdida...
Ouvi algumas pessoas queridas e que realmente queriam me ajudar, intervir de alguma forma com suas histórias e experiências, um pouco de cada, assim como disse a Pietra esses dias para mim..."Mãe cada um tem que dar um pouquinho e a gente depois tem um montão!" E como o tempo corria e ele nos passa a perna, procurei uma médica, uma psiquiatra.
Claro, foi muito duro para eu aceitar isso! Não por preconceito de aceitar que estava precisando de ajuda, isso está bem claro para mim, mas por conta da intervenção química, que ainda que benéfica, me traz ainda muitas ressalvas em relação ao seu uso e o que isso faz na minha mente e conseqüentemente em minha vida. Seria eu agora um ser transgênico? Alterando quimicamente os meus pensamentos e ações... Meus sentimentos são verdadeiros ou é um estado que o remédio faz a minha mente pensar que está sentindo e ai sente mesmo...
Não há dúvida o quanto inteligente são essas drogas modernas... E esse sempre foi o meu grande pavor. O pavor da intervenção no DNA, nos neurônios entrelaçados em nossas memórias, sentimentos, nossas convicções, crenças, ressalvas e loucuras....
Mas fui. Aceitei, porque o processo natural não estava sendo normal há muito tempo. E como escrevi há pouco, o tempo nos faz tomar decisões mesmo que contrárias do que o tempo todo acreditou antes ter. E sempre o tempo vem com essa brincadeira de esfregar na cara, atitudes nas quais outrora você repugnava, criticava, batia no peito e dizia: Eu não!!!!! E agora enfiam literalmente goela abaixo suas convicções, porque percebe que o tempo mais uma vez bate à sua porta e diz: Amiga?? Até quando???
Esse tempo é dor e é cura, é sábio e cruel, necessário para os que têm pressa, odiado para os que não têm.
Outra coisa que os remédios me causam é a desconfiança, é o assédio constante dos seus fabricantes aos profissionais de saúde (ainda estudantes) e suas pesquisas estatísticas quantitativas e não qualitativas. Somos meros números naqueles informes publicitários, belíssimos das indústrias farmacêuticas, somos parte da faixa etária, de uma cor que salta aos olhos nos folders envernizados, nas mãos de um propagandista belo e engomado (as embalagens sempre contam muito). O médico, rendido pelas migalhas dos planos de saúde, tendo jornadas triplas, raramente tem tempo para ler ou estudar a metade da farmacologia bombardeada o dia todo em seu consultório e aí, você é a cor, você é a faixa, e é você é que vai testar se o remédio presta ou não. Assuntos particularmente particulares a cada indivíduo, são automaticamente substituídos pelo grupo das faixas e cores e assim vamos nós, movimentamos e rica indústria e seus "staffs" de drogas lícitas.
A médica, disse-me que vou me sentir melhor em dez, quinze dias... Que no começo vou até achar que não está fazendo efeito, mas depois vou me sentir melhor.Hoje, faz nove dias que estou tomando o remédio. A sensação de tristeza é mínima, não sinto mais àquela vontade de chorar por cada folha que cai de uma árvore, não tenho vontade de esganar a pessoa que me não para o carro para que eu passe com as minhas filhas na faixa de segurança, a vontade de comer a geladeira também diminuiu, mas a sensação que estou exatamente é de uma pessoa que vive de ressaca, mas sem a dor de cabeça, sabe como se a mente não tem cem por cento de certeza, tipo um pós anestesia, que você sabe do panorâmico, mas não se atêm aos detalhes...
Entro no chuveiro e o banho parece ser mais gostoso, não sinto a ansiedade de sair do box... Já consigo olhar os pés e cuidar das unhas, mas sem esmaltes, cores nas unhas, nem pensar! Somente fazer o básico mesmo, eu ainda não estou me sentindo preparada para as futilidades, elas ainda me atacam tal como ofensas. O sono pela manhã ainda é pesado e as obrigações de mãe, ainda me condicionam aos horários, mesmo que o corpo ainda diga que não.
O sentimento agora de ponta é a indiferença. Eu não gosto dele, mas não posso deixar de dizer que ás vezes ele é melhor de sentir que a dor. É egoísta sim, mas para um ser que se preocupava demais com tudo e com todos, como eu, acho que está sendo um aprendizado sentir indiferença. Mas dizer que eu gosto, ahh isso não! E espero e registro aqui, que ainda não quero este no meu hall de entrada...
A leitura também está mais demorada, preguiçosa, tal como as idéias e opiniões....Nebulosas...Hoje até me lembrei e me vi como a Rê Bordosa (quem tem minha idade vai se lembrar desta personagem do Angeli, que vivia de ressaca no meio de uma banheira... ). No lugar da banheira (que infelizmente não tenho) eu me vejo no carro, no sofá, na cama e no meio das pessoas, como se existisse algo que eu esteja emersa e alienada, indiferente a tudo e a todos...
Estava preocupada em postar e com a minha indiferença aguçada da minha mente quimicamente modificada, escrever coisas que deixassem algo anormal de eu mesma. Registro constante do mau humor e do sarcasmo, terrivel isso... Como se eu não estivesse totalmente eu e a falta do domínio natural de minha mente, meus sentimentos, fizesse algo que ferisse alguém sem eu perceber, por isso também preferi não ler e não comentar sobre o que as pessoas escreviam.
Mas hoje, felizmente senti vontade de escrever.
Assim, vou me empenhar a voltar a ler os blogs que eu gosto e que sempre admirei, comentar, enfim... Vou continuar tentando, propondo a minha mente que pare de ficar nessa nebulosa e resolva seguir, mesmo que ainda alterada e incerta, mas vou mais uma vez intervir a fim de não continuar me afastando, me impedindo,me privando...
Sei que a sensação que sempre tive, a vibração de cada manhã e a força do acreditar profundamente nos seres, só mesmo Deus que vai restaurar em seu tempo... Coisas assim não há remédio nenhum que o homem fabrique que possa manter o espírito elevado e a esperança, sem que Deus faça sua intervenção.
Também, como não poderia deixar de registrar, a ajuda de pessoas que de certa forma intervieram, com a intenção única de me auxiliar e me apoiar: Meu companheiro Carlos que agüentou firmemente à minha prostração diária, minhas filhas maravilhosas que somente com seu sorriso me disseram muito (não é Rafa?), Dama, Isa, Déia, Ester,Vaneza, Rafa, Sãozita, Lua, Jou, minha sincera gratidão no compartilhar...
Punto e basta!
Obs.: Acabei de ver a publicação da lindas Flávia e Geórgia O que elas estão lendo... (Obrigada!)